Para os 32 repatriados brasileiros da Faixa de Gaza, que chegaram à Base Aérea de Brasília, ontem, exatamente às 23h24, em um avião da Presidência da República, foi o ponto final de um pesadelo de mais de 30 dias — período no qual temeram pela própria vida, passaram fome, racionaram água e conviveram com a angústia pela espera de serem incluídos em uma lista de nomes autorizados a cruzar a fronteira com o Egito.
Foi 10º voo da ponte aérea entre o Brasil e o Oriente Médio, desde a eclosão do conflito, em 7 de outubro, com o massacre promovido pelo grupo terrorista Hamas, que invadiu o território israelense e matou mais de mil pessoas.
O grupo foi recebido pelo presidente da República e parte do primeiro escalão do governo, além dos chefes militares. Tal como fizera mais cedo, em uma cerimônia no Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva criticou as operações israelenses na Faixa de Gaza e comparou-as a um ato de terrorismo de brutalidade semelhante ao cometido pelo Hamas. Mais uma vez, lamentou que mulheres e crianças sejam as maiores vítimas do conflito.
Lula reafirmou que não deixará nenhum brasileiro que esteja na zona de guerra, e pretenda voltar para o Brasil, para trás. Falou nos cidadãos restantes em Gaza e na Cisjordânia e elogiou a atuação da diplomacia brasileira, primeiramente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e, depois, junto ao governo de Israel e demais atores envolvidos no conflito.
No grupo que desembarcou em Brasília, três crianças — de três, seis e outra com aproximadamente 12 anos —, além de uma gestante, precisaram de atendimento hospitalar. Dos repatriados, quatro ficarão em Brasília, 12 vão para São Paulo se juntar às famílias, outros 12 seguirão para São Paulo onde ficarão em abrigos, dois seguem para Santa Catarina, um para Cuiabá e um para Novo Hamburgo (RS). A saída do grupo era esperada para o fim de semana, mas foi seguidamente adiada.
Mais cedo, Lula já tinha subido o tom contra Israel ao equiparar que as ofensivas em Gaza ao terrorismo do Hamas. "Nessa guerra, depois do ato provocado — e eu digo ato de terrorismo do Hamas —, as consequências, as soluções de Israel são tão graves quanto foram as do Hamas, porque eles estão matando inocentes sem nenhum critério. Joga bomba onde tem criança, onde tem hospital, a pretexto de que um terrorista está lá", criticou, acrescentando que a repatriação dos 32 dependia "da boa vontade de Israel".
As críticas de Lula a Israel foram mal recebidas por entidades da comunidade judaica. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) classificou-as como "equivocada e perigosa". "Estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito. A comunidade judaica brasileira espera equilíbrio das nossas autoridades e uma atuação serena que não importe ao Brasil o terrível conflito no Oriente Médio".
Já o escritório brasileiro da ONG israelense StandWithUs chamou de "graves e inverídicas" as declarações. "O presidente brasileiro equiparou Israel, um Estado democrático, com um grupo terrorista com intentos abertamente genocidas, que massacrou cerca de 1.200 pessoas — entre elas três brasileiros — e sequestrou 240 pessoas", diz o texto
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