As relações com o Brasil ocuparam um bom espaço no último debate entre os dois candidatos à Presidência argentina. Na noite de domingo, o governista e atual ministro da Economia, Sergio Massa, e o opositor, Javier Milei, discutiram asperamente ao tratar dos principais parceiros econômicos da Argentina — China e Brasil. Nesse contexto, o Mercosul foi defendido pelo peronista Massa e criticado por Milei. Na linha da campanha do medo, que adotou para enfrentar o adversário ultraliberal, o candidato governista acenou com o risco de desemprego caso as ideias de Milei sejam implementadas.
Massa disse que "criar problemas com Brasil e China vai terminar com menos empregos" e que "política exterior não pode ser regida por caprichos". Milei costuma dar declarações de que não fará acordos com governos "comunistas", em que inclui o de Xi Jinping e o de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Diga a verdade aos argentinos: você vai romper relações com Brasil e China, colocando em risco o trabalho de 2 milhões de argentinos?", provocou Massa.
"O Estado não precisa se envolver em negociações entre particulares. Quando você quer se envolver é para conseguir alguma vantagem para os amigos", rebateu Milei, que negou defender o corte das relações com os dois países.
O ultradireitista voltou a privilegiar, no debate, o diálogo com o que chama de "mundo livre" — que inclui Estados Unidos e Israel —, em detrimento de países que, para ele, desrespeitam a "economia liberal". A Argentina é muito dependente de seus principais parceiros comerciais e, no ano passado, recebeu mais investimentos chineses do que o Brasil.
Preconceito
O debate sobre relações comerciais e multilateralismo proporcionou a Massa a possibilidade de atacar Milei na área em que o oposicionista vem sendo mais criticado por analistas, políticos e empresários, por causa de suas propostas. "Você chamou de comunistas os dois presidentes", disparou Massa, para depois acusar o adversário de utilizar um discurso de "preconceito ideológico". "A política exterior não pode ser regida por caprichos, por ideologia, devem ser regidas pelo interesse nacional", acrescentou.
"Deixe de assustar as pessoas com a perda de postos de trabalho", queixou-se Milei. O ultradireitista, porém, avançou pouco em explicações sobre seu plano econômico para uma Argentina, em severa crise econômica. Limitou-se a dizer que preza o comércio internacional, mas que essa deve ser uma atividade da iniciativa privada, sem participação do Estado.
"O melhor exemplo do estorvo que o Estado causa é o que está acontecendo com o Mercosul, que não tem rota de saída, está parado, não progride para lado nenhum. Diante dessas mentiras que dizem que sinalizo que não tem que fazer comércio com a China, com o Brasil, digo que é falso. O Estado não tem que ficar se metendo porque, cada vez que se mete, gera corrupção, e isso acarreta queda do bem-estar dos argentinos", devolveu.
Ao Correio, o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, lamentou os ataques de Milei a Lula. "É uma afirmação absolutamente errada, porque Lula não é nem comunista nem corrupto. A Corte Suprema do Brasil disse que ele não deve nada e que tem todos os seus direitos políticos", salientou. (Colaborou Henrique Lessa)