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Enem: presidente do Inep diz que exame 'não demoniza agronegócio'

Na Câmara, Manuel Fernando Palácios rebate críticas às provas e afirma que questões são elaboradas com critérios técnicos rigorosos

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Fernando Palácios, enfrentou na Câmara, nesta quarta-feira, uma saraivada de críticas à primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, aplicada no último domingo em todo o país.

O pedido de audiência pública foi feito por deputados da oposição, com apoio de parlamentares ligados à bancada do agronegócio, que foi tema de uma das questões apontadas como polêmicas no certame.

Palácios tentou, ao longo de mais de quatro horas, não polemizar. "O Enem não demoniza o agronegócio, o Inep não demoniza o agronegócio, isso é obvio, não é tema relevante nessa discussão", disse ele.

Sobre os textos de apoio que a prova oferece aos estudantes antes dos enunciados das questões, Palácios afirmou que a seleção "obedece a critérios técnicos rigorosos" e que não tem como objetivo, "em momento algum, submeter ao estudante qualquer pergunta que leve à discordância ou à concordância com o que lá está escrito". Ele destacou que o importante é apenas "revelar a compreensão do texto citado" por parte do aluno.

A explicação foi dirigida, especificamente, a parlamentares ligados ao bolsonarismo, que não economizaram críticas ao exame.

"Manifesto comunista"

O deputado Sargento Gonçalves (PL-RN) acusou o Enem de servir de instrumento de ideologização, enquanto a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) disse que sentiu "desconforto com as questões ideológicas" ligadas ao agronegócio. Para o pastor Marcos Feliciano (PL-SP), algumas itens do Enem têm viés ideológico e podem ser comparados a um "manifesto comunista".

Sempre tranquilo e com respostas técnicas, amparadas em dados e explicações sobre como o exame é elaborado, o presidente do Inep rechaçou qualquer alusão ao uso ideológico" do Enem. "Toda a atividade do Inep na construção de instrumentos é normatizada ao extremo. Não há nada que se faça que não esteja regulado por alguma norma interna. Temos guias técnicos que dizem como esses itens devem ser construídos e que equívocos devem ser evitados", relatou aos deputados.

A respeito do tema da redação, que levantou a questão dos direitos das mulheres, Palácios foi conciso. Enfatizou que "racismo é crime e feminismo não é doutrina". "Não me parecem que sejam doutrinários itens que coloquem em evidência questões relativas à discriminação racial ou contra a mulher", concluiu, sem ser interrompido.

Apesar do tom contundente de algumas críticas feitas pela oposição — os membros do colegiado ligados ao governo elogiaram unanimemente a prova e a atuação do Enem —, Palácios conseguiu evitar bate-boca e troca de acusações, como costuma acontecer nas comissões da Câmara em embates entre bolsonaristas e progressistas em temas de costumes.

Convocação

A oposição bem que tentou aprovar a convocação do ministro da Educação, Camilo Santana, para um debate sobre o Enem. Apesar de o requerimento ter sido apresentado, o presidente do colegiado, Moses Rodrigues (União-CE), não abriu votação. Ele informou que houve acordo com a bancada ruralista para que Santana e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, compareçam à audiência pública da Comissão de Agricultura, que será conjunta com as comissões de Educação e de Fiscalização e Controle.

Camilo Santana deve comparecer ao colegiado no próximo dia 22, após aprovação do pedido do deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES).

 

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