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Derrotas e assédio do Planalto minam os planos do PL para as eleições de 2024

Inelegibilidade de Bolsonaro e Braga Netto dificultam costuras políticas, com vistas às eleições municipais de 2024. Além disso, governo quer atrair parlamentares do partido para sua órbita

O PL anunciou, ontem, mais um pré-candidato às eleições de 2024. Em evento com presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, a deputada federal Rosana Valle (SP) foi apresentada como a aposta da legenda para a Prefeitura de Santos (SP). Ela se soma ao ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pré-candidato em João Pessoa, e ao deputado estadual Bruno Engler, em Belo Horizonte.

Mas os planos do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, de tornar o PL um campeão em conquista de prefeituras — projetou vencer em aproximadamente 1,5 mil municípios —, está ruindo, na opinião de analistas políticos. E por duas razões principais: as inelegibilidades, decretadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, de Bolsonaro e Walter Braga Netto — que era visto como potencial candidato da legenda à Prefeitura do Rio de Janeiro — e a manobras do governo Lula para isolar os radicais da extrema direita na bancada do PL na Câmara.

O general da reserva foi condenado pelo TSE por abuso de poder político nos atos do Bicentenário da Independência em 2022 — era vice de Bolsonaro na chapa à reeleição. Com chances remotas de recuperar o direito de ser votado, Valdemar apresentou o deputado Alexandre Ramagem (RJ) como substituto nas corrida. A indicação pareceu não ter agradado ao senador Flávio Bolsonaro (RJ), que também estava cotado para ser lançado na disputa.

Porém, contra Ramagem pesa a acusação de ter tornado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que presidiu de 2019 a 2022, um braço de Bolsonaro para bisbilhotar inimigos, críticos e adversários. Para isso foi utilizado o software First Line, desenvolvido por uma empresa israelense e capaz de rastrear sinais de celular.

Além dos problemas internos, o Palácio do Planalto vem fazendo acenos para que setores do PL passem à órbita do governo. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu o Conselho Político de Coalizão, no Palácio do Planalto. Nesse grupo, estavam pelo menos oito presidentes de partidos, líderes e vice-líderes que apoiaram Bolsonaro em 2022. A estratégia é isolar o ex-presidente e voltar a derrotá-lo nas prefeituras.

Adesismo

No PL, um bom número de parlamentares tem votado com o governo. No final de maio, a legenda orientou que os deputados fossem contra a medida provisória que reestruturava os ministérios do governo Lula. Porém, sete deputados da sigla decidiram votar com o Planalto. Já na aprovação do projeto das offshores, 12 deputados fecharam com os governistas.

Outro episódio foi quando o PL determinou que os deputados votassem contra um destaque em um texto do Planalto que retomou o Programa de Aquisição de Alimentos — oito deputados acompanharam a base governista. Em agosto, a sigla orientou posição contrária a uma medida provisória do governo que concedia um reajuste salarial de 9% a servidores públicos federais. Dezesseis parlamentares da sigla não seguiram a indicação.

Em setembro, o PL determinou uma obstrução a outra medida que abriria um crédito de R$ 200 milhões para combater a gripe aviária. Sete decidiram apoiar a proposta do Executivo.

Alguns deputados do partido têm sido notados pelas vezes que votaram com o governo. Como João Carlos Bacelar (BA) e Júnior Lourenço (MA). Outro é Robinson Faria (RN), pai de Fabio Faria, ex-ministro das Comunicações no governo Bolsonaro. A essa lista se soma Samuel Viana (MG).

Bacelar foi aliado do ex-governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa. Em maio, foi agraciado com uma indicação a um cargo de chefia na Superintendência do Patrimônio da União na Bahia.

Na campanha eleitoral do ano passado, Lourenço anunciou nas redes sociais que apoiaria Flávio Dino (PSB-MA) para o Senado — está licenciado para ocupar o posto de ministro da Justiça e Segurança Pública. Já Robinson, quando era filiado ao PSD, foi eleito governador do Rio Grande do Norte, em 2014, em uma coligação com o PT.

Samuel é filho do senador Carlos Viana (Podemos-MG), que foi candidato do PL ao governo mineiro. Mas se distanciou de Bolsonaro, em março, e se desfiliou da sigla.

O líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), não é visto como um "radical" no Palácio. Na reunião do conselho, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, fez uma citação elogiosa à postura não só de Côrtes, mas também do líder do PSDB, Adolfo Viana (BA). Disse que "mesmo não sendo da base, ajudam no diálogo". (Com Agência Estado)

 

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