Congresso

Reunião no Planalto serviu para atar laços com Centrão

Ao reunir líderes e integrantes das legendas que compõem o grupo manejado por Arthur Lira na Câmara, Lula tenta ajudar a governabilidade e dá mais um passo para enfraquecer o e isolar o bolsonarismo no Parlamento

A reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na terça-feira, com uma numerosa e representativa base aliada está sendo tratada no Planalto como uma inflexão na relação do governo com a Câmara, que espera se estender ao Senado. Estavam presentes os principais líderes e dirigentes dos partidos do Centrão, que definem os rumos das votações no Plenário.

O saldo do encontro não ficou restrito ao pedido de Lula a seus aliados para se empenharem na aprovação de matérias, neste final de ano, que garantam a ampliação da arrecadação do governo. O presidente deixou claro que 2024 será dedicado a circular pelo país, se aproximar dos que garantiram sua eleição e inaugurar obras. O que não foi dito pelo petista, mas está posto: o governo já visa as eleições municipais.

Outro propósito dessa reunião, além da demonstração de força, foi a fotografia de Lula com alguns ex-aliados de Jair Bolsonaro (PL). Isolar o ex-presidente e reduzir seu poder como cabo eleitoral, em 2024, é também o objetivo dos petistas.

Ao Correio, alguns participantes desse encontro falaram sobre o clima da reunião, a perspectiva das relações políticas a partir de agora, e dos dividendos eleitorais que podem surgir.

Um dos vice-líderes do governo na Câmara, o deputado Josenildo Abrantes (PDT-AP), participou da reunião no Planalto e classificou o encontro como "excelente". Disse que Lula demonstrou intenção em repetir essas reuniões a cada 45 dias e confirmou o pedido de que todos se empenhem na aprovação de leis que garantam recursos na manutenção e ampliação dos programas sociais. 

"O presidente deixou clara sua disposição em não fazer corte de gastos nem contingenciar nas áreas sociais. O objetivo é melhorar a arrecadação", disse.

Eleição

Ele também comentou o impacto eleitoral dessa movimentação de Lula a partir de 2024. "O presidente quer viajar o país, visitar todas as regiões. Cada uma tem sua especificidade. E tem a questão de ser um ano eleitoral, obviamente. O ano que vem será uma prévia de 2026. O governo vai buscar tranquilidade para formar uma coalizão para essas duas campanhas", completou Josenildo.

Na reunião, Lula evitou citar Bolsonaro. No entendimento de quem esteve presente, o presidente deu apenas uma estocada no antecessor, ao afirmar que o nível da reunião permitia que o encontro fosse transmitido ao vivo. O petista, intencionalmente ou não, fez lembrar a reunião de Bolsonaro com seus ministros, em 22 de abril de 2020, que não foi transmitida, mas, por uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), veio a público. E se ouviu ali muitos palavrões e agressões de alguns dos então ministros contra a Corte. 

"A reunião deveria ser transmitida. Os termos em que se deu foi republicano, alto nível e mostrou o comprometimento de todos com o país", disse o deputado José Nelto (PP-GO), um dos vice-líderes do Centrão. Para ele, ao juntar a base nesse momento, Lula acerta no "timing" e se fortalece para 2024. 

Outro vice-líder do governo, Rubens Júnior (PCdoB-MA) entende a reunião como um avanço na relação de Lula com a base. "A relação sempre foi boa, olhando para o futuro. É um avanço, não uma virada de posicionamento", disse.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, escolhido para ser o porta-voz do encontro, citou que se trata de uma reorganização da frente que está isolando o bolsonarismo. "Reunião com ampla participação de todos os líderes, de todos os partidos, mostrando a frente ampla que isolou o bolsonarismo, que isolou aqueles que atentaram contra a democracia no dia 8 de janeiro. E que estão ajudando a reajustar a economia, na reconstrução das políticas sociais e o reposicionamento do Brasil no mundo", explicou.

 

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