terrorismo

Músico afirma que receberia US$ 100 mil para matar pessoas

Suspeito de ter aderido ao Hezbollah, Michel Messias diz que escutou a proposta em Beirute. Mas garantiu à PF que não cometeria tal crime. Foi-lhe perguntado, também, se teria conexões com facções do tráfico

No primeiro depoimento à PF, Michel disse que foi ao Líbano para uma apresentação de pagode. Mas foi indagado se mataria alguém por dinheiro -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)
No primeiro depoimento à PF, Michel disse que foi ao Líbano para uma apresentação de pagode. Mas foi indagado se mataria alguém por dinheiro - (crédito: Reprodução/Redes sociais)
postado em 29/11/2023 03:55

O músico carioca Michael Messias, de 43 anos, preso no Rio de Janeiro no começo do mês, na Operação Trapiche, da Polícia Federal, mudou a versão que dera no depoimento sobre supostas ligações com o grupo radical islâmico Hezbollah. Conforme disse à PF, o sírio naturalizado brasileiro Mohamad Khir Abdulmajid teria lhe oferecido US$ 100 mil (aproximadamente R$ 500 mil) para matar. Não fica claro, porém, de que forma ele agiria para que recebesse a quantia — embora Michel tenha sido preso por suspeita de fazer parte de um plano para atacar insitutições ligadas à comunidade judaica no Brasil.

O Correio teve acesso ao depoimento. Em três páginas, Michel relata os detalhes do envolvimento com suspeitos de fazerem parte do Hezbollah. O músico contou que, durante a viagem que fez ao Líbano, Mohamad lhe questionou se teria coragem de matar alguém — teria afirmado ao interlocutor que "jamais" tiraria a vida de alguém. A abordagem foi no hall de um hotel de luxo, de frente para o mar, em Beirute.

Depois disso, Michel disse ter se encontrado com um homem desconhecido, que usava máscara cirúrgica, calça jeans, tinha cabelos pretos e óculos escuros. Voltou a receber a proposta de US$ 100 mil para matar. O músico também teria sido questionado pelo interlocutor se fazia parte de alguma facção criminosa — como o PCC ou o Comando Vermelho, que dividem o controle do tráfico de drogas e armas no Brasil. Respondeu que não.

Segundo Michel, assim que desembarcou em Beirute, foi levado por Mohamad do aeroporto para o hotel onde ficou hospedado. Conforme disse à PF, o músico teria sido indagado se o Brasil era um país violento e se conhecia membros de facções criminosas, pessoas procuradas pela polícia ou ex-policiais que seriam capazes de cometer assassinatos.

Ajuda financeira

Na estada em Beirute, Michel admitiu à PF que foi ajudado financeiramente por Mohamad. Em uma das conversas, disse que era o responsável pelo sustento da família e não podia contribuir por estar longe. O músico, então, pediu ao anfitrião no Líbano que depositasse R$ 500 na conta de sua mulher — o que teria sido feito. Aos agentes federais, explicou qu, antes de voltar ao Brasil, recebeu um maço de dinheiro (não soube dizer quanto era) para gastar na viagem.

No primeiro depoimento à PF, Michel negou ter sido sondado para participar de alguma atividade terrorista em solo brasileiro. Assegurou que foi ao Líbano para fazer apresentações de pagode, a convite de Mohamad.

O músico foi preso em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, em 12 de novembro. Os agentes da PF contaram com informações passadas pelo Mossad — serviço israelense de inteligência — e por uma das agências norte-americanas de informação.

O episódio gerou ruídos entre os governos do Brasil e de Israel, por causa de uma nota emitida pelo gabinete do premiê Benjamin Netanyahu. O texto dava a impressão de que a PF agiu sob as ordens da inteligência israelense.

Na ocasião, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, veio a público para afirmar que nenhuma nação estrangeira interfere em apurações da PF — que, segundo ele, estava no encalço de pessoas que supostamente teriam ligações com grupos radicais islâmicos e se preparavam para praticar atentados. As investigações ganharam impulso depois do ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro.

O Hezbollah é um grupo extremista islâmico, de vertente xiita, que conta com apoio financeiro e logístico do governo do Irã. A facção controla econômica e politicamente o Líbano. É considerado terrorista por países como Estados Unidos, França e Alemanha — o Brasil segue a classificação das Nações Unidas, que não define o Hamas ou o Hezbollah como terroristas. (Colaborou Fabio Grecchi)

 

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