O Brasil assume, em 1º de dezembro, a presidência do G20 — grupo que reúne as 20 maiores economias mundiais — e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que o combate às desigualdades e às mudanças climáticas serão a prioridade da gestão brasileira. Além disso, o país proporá a reforma da governança das instituições financeiras multilaterais. Ele defende que é preciso reduzir as dívidas externas dos países em desenvolvimento, sobretudo os africanos.
"Muitas vezes as instituições emprestam dinheiro não com o objetivo de salvar o país que está tomando dinheiro emprestado", salientou o presidente, lembrando a situação econômica da Argentina.
Lula enfatizou que as principais linhas de ação brasileiras serão comandadas pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. "Queria lembrar que, possivelmente, esse seja o mais importante evento internacional que o Brasil vai assumir a responsabilidade de coordenar. São as 20 maiores economias do mundo", disse aos ministros.
Também participaram da reunião os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, e do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Segundo Lula, serão criadas duas forças-tarefa, sendo uma contra as desigualdades e outra voltada para as mudanças climáticas, além de uma iniciativa pela bioeconomia. Para o presidente, não há explicação para ainda haver pessoas passando fome, com "tanto dinheiro atravessando os Atlânticos". Destacou, também, que o uso de energia verde é a oportunidade para que o Brasil se destaque e atraia investimentos estrangeiros.
Haddad, por sua vez, disse que é preciso reaproximar os países e criar uma "nova globalização", que leve em conta aspectos sociais e sustentáveis. Ele defende criar um ambiente financeiro mais justo, que reduza desigualdades.
Encruzilhada
"De um ponto de vista econômico, o mundo está em uma encruzilhada. Ou continuamos caminhando para uma crescente fragmentação, com a formação de blocos protecionistas e consequências imprevisíveis para a estabilidade geopolítica, ou inventamos uma nova globalização. Dessa vez, colocando questões socioambientais no centro de nossas preocupações", frisou.
"Será uma ocasião ímpar para projetar uma imagem renovada do Brasil e apresentar a visão de liderança em termos de cooperação internacional e no debate das grandes questões econômicas e sociais. Será, portanto, uma das principais prioridades da política externa nos próximos 12 meses", explicou o chanceler Mauro Vieira.
Na pauta do Ministério da Fazenda, um dos objetivos da gestão brasileira será trazer o tema da inclusão para a agenda. Foi o que assegurou a coordenadora da Trilha de Finanças e chefe da Secretaria de Assuntos Internacionais da pasta, Tatiana Rosito. A outra trilha do G20, a de Sherpas — que ficará a cargo do Ministério das Relações Exteriores —, terá a coordenação do embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do MRE.
Em conversa com jornalistas, na quarta-feira, os dois diplomatas ressaltaram que, nesses canais, serão negociadas as declarações e os atos a serem adotados pelos líderes na cúpula do G20, que será no Rio de Janeiro, entre 18 e 19 de novembro de 2024. Ao longo do mandato de um ano, estão previstas mais de 100 reuniões dos grupos de trabalho e forças-tarefa que compõem a cúpula do grupo.
O Brasil ainda vai apresentar, durante a presidência do colegiado, o G20 Social, espaço de participação e contribuição da sociedade civil nas discussões e formulações de políticas relacionadas à Cúpula. A iniciativa abrangerá 12 grupos de engajamento, além de propostas e eventos realizados em coordenação entre as trilhas política e financeira, e atores não governamentais dos diferentes países do G20.
O ponto alto será a Cúpula Social, que ocorrerá entre 15 e 17 de novembro de 2024, no Rio, antes da cúpula de líderes do bloco.
Cautela com posse de Milei
A cerimônia de posse de Javier Milei, em 10 de dezembro, é tratada com discrição pelo Ministério das Relações Exteriores, responsável pela organização da delegação que representará o governo brasileiro. A cautela se explica por causa da postura do presidente argentino eleito em relação a Lula e a expectativa de que a posse de Milei seja explorada pela extrema direita brasileira como propaganda.
A embaixada do Brasil em Buenos Aires conclui as negociações com representantes de Milei para fechar a lista de convites oficiais. Apesar das declarações pouco amistosas do presidente eleito em relação ao Brasil e à China, Lula será convidado formalmente. E, se for, terá lugar de destaque entre os chefes de Estado e de governo.
Nos últimos dias, Milei vem recalibrando o discurso em relação ao Brasil. Disse, em entrevista a uma TV argentina, que Lula "será bem-vindo" caso decida ir à posse. A expectativa é de que o Brasil seja representado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
O Itamaray trabalha, ainda, para manter distância entre a delegação oficial e os políticos da oposição que estão sendo arregimentados por Jair Bolsonaro para ir à posse de Milei. Mas o ex-presidente não tem como incluir sua delegação nos eventos oficiais na Casa Rosada (sede do governo argentino) e no Parlamento — a distribuição de convites segue os trâmites da diplomacia e dos Poderes envolvidos.
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