O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender, nesta sexta-feira (17/11), a necessidade de uma reforma nos organismos internacionais. Ele discursou no evento virtual "Vozes do Sul Global", sediado pela Índia, que reuniu representantes de 125 países. Para o petista, as guerras e tragédias atuais evidenciam a falha das instituições e, apesar do trabalho do Brasil pela paz no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), as iniciativas vêm sendo frustradas pelo direito a veto dos cinco membros permanentes.
Lula também defendeu a união entre os países do Sul Global pela defesa dos interesses em comum, e destacou que a presidência do Brasil no G20, que começa em dezembro, terá como prioridades o combate à fome e às mudanças climáticas.
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"As tragédias humanitárias a que estamos assistindo evidenciam a falência das instituições internacionais. Por não refletirem a realidade atual, elas perderam efetividade e credibilidade. Em seu mandato no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil tem trabalhado incansavelmente pela paz, mas as soluções são reiteradamente frustradas pelo direito de veto", discursou. O presidente foi convidado a participar do evento pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anfitrião do encontro.
Vaga permanente
Lula critica publicamente o funcionamento das instituições internacionais desde a campanha eleitoral, no ano passado, e defende que o Brasil deve ter um assento permanente no Conselho de Segurança. A fala de hoje ocorre após um mês de tratativas para aprovar uma resolução do grupo pedindo uma trégua humanitária na guerra entre Israel e Hamas. No entendimento do Brasil, porém, a medida aprovada foi branda demais, embora um avanço importante. O texto mais firme foi apresentado pelo Brasil, mas vetado pelos Estados Unidos.
Para o chefe do Executivo, é preciso recuperar a confiança no multilateralismo entre os países e o direito internacional, especialmente o humanitário. "Nada justifica que as principais vítimas dos conflitos sejam mulheres e crianças", declarou, aludindo ao alto número de mulheres e crianças mortas na Faixa de Gaza.
Sul Global quer dar voz a países menos desenvolvidos
Já sobre o Sul Global, o presidente afirmou que os países muitas vezes adotam pontos de vista que não os favorecem, seguindo interesses de países desenvolvidos. Lula citou que os países mais pobres são os mais afetados pelas mudanças do clima, pela exploração de recursos naturais, baixo acesso a medicamentos, dívidas e até pelos efeitos da inteligência artificial que começa a despontar agora.
"A presidência brasileira do G20, que se inicia em dezembro, irá — assim como fizeram Índia, Indonésia antes dela e, certamente, África do Sul depois de nós — lançar luz sobre as necessidades do Sul Global. Dedicaremos forças-tarefas especiais ao combate à fome e ao enfrentamento da mudança do clima, as duas maiores urgências do nosso tempo. Na COP 30, que sediaremos no coração da Amazônia, insistiremos para que países desenvolvidos assumam metas mais ambiciosas e cumpram seus compromissos", enfatizou o presidente brasileiro.
Ao finalizar sua fala, Lula pontuou que o objetivo do Sul Global não é antagonizar as potências do Norte, mas garantir que os países menos desenvolvidos sejam ouvidos no cenário internacional.
O evento virtual foi encerrado hoje. Além de o presidente brasileiro e do primeiro-ministro indiano, discursaram os chefes de Estado e governo de Bahrein, Egito, Guiana, Jamaica, Malawi, Moçambique, Nepal, Sérvia e Trinidad e Tobago.
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