A reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira (31/10) com uma numerosa e representativa base aliada está sento tratada no Planalto como uma inflexão na relação do governo com a Câmara, que espera se estender ao Senado. Estavam presentes os principais líderes e dirigentes dos partidos do Centrão, parlamentares que definem os rumos das votações no plenário.
O saldo do encontro não ficou restrito ao pedido de Lula a seus aliados para se empenharem na aprovação de matérias neste final de ano que garanta a ampliação da arrecadação do governo. O presidente deixou claro que 2024 será dedicado a circular pelo país, se aproximar dos que garantiram sua eleição e inaugurar obras. O que não foi dito pelo petista, mas o que está posto: o governo já está de olho nas eleições municipais.
Outro propósito dessa reunião, além da demonstração de forças, é a fotografia do presidente com alguns ex-aliados de Jair Bolsonaro. Isolar o ex-presidente e reduzir seu poder como cabo eleitoral em 2024 é também o objetivo dos petistas.
Ao Correio, alguns participantes desse encontro falaram sobre o clima da reunião e a perspectiva das relações políticas a partir de agora. E do dividendo político-eleitoral que pode surgir. Um dos vice-líderes do governo na Câmara, o deputado Josenildo Abrantes (PDT-AP), que participou da reunião no Planalto, classificou o encontro como "excelente", disse que o presidente demonstrou intenção em repetir essas reuniões a cada 45 dias e confirmou o pedido de Lula que todos se empenhem na aprovação de leis que garantam recursos na manutenção e ampliação dos programas sociais. O ruído do déficit fiscal entre Lula e o ministro Fernando Haddad não foi citado.
"O presidente deixou claro sua disposição em não fazer corte de gastos nem contigenciar nas áreas sociais. O objetivo é melhorar a arrecadação", disse Josenildo ao Correio. Ele também falou do impacto eleitoral dessa movimentação de Lula a partir de 2024.
"O presidente quer viajar o país, visitar todas as regiões. Cada uma tem sua especificidade. E tem a questão também de ser um ano eleitoral, obviamente. O ano que vem, 2024, já será uma prévia para 2026. O governo vai buscar tranquilidade para formar uma coalizão para essas duas campanhas", completou o pedetista.
Na reunião, Lula evitou citar Jair Bolsonaro. No entendimento de quem estava presente, o presidente deu apenas uma estocada no antecessor, ao afirmar que o nível da reunião permitia que o encontro fosse até transmitido ao vivo. O petista, intencionalmente ou não, fez lembrar a reunião de Bolsonaro com seus ministros em 22 de abril de 2020, que não foi transmitida, mas, por uma ordem do STF, veio a público. E se ouviu ali muitos palavrões e conspiração de ministros contra o tribunal, entre outros tipos de declarações.
"Foi isso mesmo. A reunião deveria ser transmitida. Os termos em que se deu foi republicano, alto nível e mostrou o comprometimento de todos ali com o país", disse o deputado José Nelto (PP-GO), que estava na reunião, e é um dos vice-líderes do bloco do Centrão, o maior da Câmara. Nelto já foi um aliado de Sergio Moro. Para Nelto, ao juntar a base do governo nesse momento, Lula acerta no "timing" e se fortalece para a campanha de 2024.
Outro vice-líder do governo, Rubens Júnior (PCdoB-MA) entende a reunião de ontem não como uma inflexão, mas um avanço na relação de Lula com sua base de apoio. "A relação sempre foi boa, olhando para o futuro. É um avanço, não uma virada de posicionamento", disse Júnior.
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