História de amor e luta

Deputado do PSol faz transplante de rim e doadora é sua mulher

Ivan Valente (PSol-SP) passou por cirurgia em São Paulo; Vera Lúcia Valente, sua companheira desde a clandestinidade, tinha tipagem de sangue compatível

No seu oitavo mandato como deputado federal, Ivan Valente (PSol-SP) passou por um sobressalto no seu quadro de saúde, mas se recupera bem e retornou esta semana aos trabalhos na Câmara. A patologia que afeta o parlamentar envolve a presença de cistos nos dois rins, doença conhecida como rim policístico, que ataca o tecido e compromete a filtragem do sangue.

Aos 77 anos, Valente precisou tomar uma decisão rápida e foi submetido a um transplante de rim, em agosto. A demora poderia agravar seu quadro e torná-lo dependente, num período de seis meses, de sessões de hemodiálise.

O rim saudável que reverteu seu quadro clínico e que vai lhe garantir outra expectativa de vida foi doado pela psicóloga e professora Vera Lúcia Valente. Vera é sua mulher há 48 anos. Uma relação que teve início nos duros anos de 1970, na clandestinidade imposta aos opositores do regime, durante a ditadura militar.

Em depoimento ao Correio, o deputado do PSol dá detalhes do enfrentamento da doença, a decisão sobre a doadora e faz declarações à companheira: "Agora é um encontro de corpo e de alma".

 

Ivan Valente e Vera, 71 anos, começaram a discutir essa possibilidade no fim do ano passado, quando ela começou a fazer exames de compatibilidade. A tipagem do sangue bateu. A circurgia foi feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

"A tipagem de sangue coincidiu. Ela é 'O' negativo e eu sou 'O' positivo. Os outros exames de compatibilidade foram feitos e deram a garantia de que o transplante seria um sucesso, como foi. Embora não sejamos geneticamente parentes, deu tudo certo. A Vera está passando muito bem", contou o deputado, que fez a cirurgia no Hospital do Rim, em São Paulo, um centro de referência mundial nesse tipo de intervenção.

"Tive que optar pelo transplante enquanto a saúde está boa, as condições do coração, diabetes. Com 77 anos, não poderia esperar muito. Ninguém faz um transplante aos 80 anos", disse.

Mariane Andrade/PSol - Festa dos colegas do PSol para o deputado Ivan antes de reunião da bancada. Todos estavam de máscara
 

Declaração

Ivan Valente lembra que foi uma cirurgia pesada, Vera retirou um rim, afinal. O procedimento foi simultâneo, cada uma numa sala de cirurgia, ao lado do outro. "Minha doença me permitia quase uma vida normal. No final é que você vai perdendo um pouco a função renal e vai sentindo um cansaço maior."

No depoimento, o deputado agradece o gesto de Vera: "Foi um encontro de corpo e alma. Estamos comemorando a vida e o amor também. Quero aproveitar essa oportunidade para declarar meu amor a Vera Lúcia Valente, meu amor eterno e que também está feliz. A gente vai poder ter qualidade de vida, uma velhice razoável. E estou de volta aqui (Congresso), para seguir no enfrentamento em defesa da democracia, de um Brasil soberano e democrático".

Ivan Valente foi perseguido pela ditadura, preso e torturado. Atuou no Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP). Ficou preso durante um ano e foi submetido a torturas como pau de arara, cadeira do dragão e choque elétrico. Naquele período, ele passou pelos mais duros centros de repressão da ditadura, como o Doi-Codi (Departamento de Operação de Informação) e o Dops (Departamento de Ordem e Política Social), no Rio de Janeiro.

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