GUERRA EM ISRAEL

Vieira: 'É preciso ter o mínimo de humanidade em meio a insanidade da guerra'

Em reunião tensa e sem acordo, Brasil sobe o tom com Israel na cobrança de uma solução para a crise humanitária no conflito em Gaza

O Brasil subiu o tom nas críticas a Israel e cobrou a responsabilidade do país na ajuda humanitária, durante reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (24/10), que discutiu o conflito entre Israel e o Hamas. "Como potência ocupante, Israel tem a obrigação legal e moral de proteger a população local ao abrigo do direito humanitário internacional", disse o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que presidia a sessão.

“É preciso ter o mínimo de humanidade no meio da insanidade da guerra, o presidente Lula ressalta que estamos lidando tanto com uma crise de reféns como uma crise humanitária. Os atos de terrorismo perpetrados contra civis resultaram em mais de 1 mil mortos, centenas de sequestrado, incluindo 3 brasileiros que foram mortos, vítimas dos ataques do Hamas. Mas não podemos tolerar também a perda de mais de 2 mil crianças palestinas”, disse o ministro.

Por sugestão do Brasil, que, até o final de outubro, está na presidência temporária do colegiado, a reunião de terça-feira foi de alto nível, com a maioria dos países representados pelos seus ministros de relações exteriores, o que mostra a importância do encontro. “Nós seremos julgados pelas futuras gerações e culpados por não agir. Seguir focando em nossos desentendimentos não nos ajudará a resolver essa crise humanitária”, alertou Vieira ao criticar a inação do Conselho, que na última semana rejeitou uma proposta de resolução brasileira que cobrava uma trégua para a constituição de um corredor humanitário.

Para Vieira, o conflito atual tomou níveis inéditos. “Estamos testemunhando níveis de violência sem precedentes na região. Desde o dia 7 de outubro, mais de 5 mil vidas foram perdidas de ambos os lados e mais de 1 milhão de pessoas fugiram das suas casas na Faixa de Gaza”, disse o chanceler brasileiro que, citando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, repetiu seu apelo. “Quero citar o presidente Lula em seu apelo à razão, o Hamas precisa libertar as crianças israelenses que foram sequestradas de suas famílias e Israel deve parar com o bombardeamento para que crianças e suas mães possam deixar Gaza pela fronteira com o Egito”, disse Vieira.

O chanceler brasileiro também apontou que a escalada da violência na ação israelense em Gaza é inadmissível e ressaltou a importância do Conselho na solução da crise humanitária, como no êxito da negociação para o resgate dos reféns mantidos pelo Hamas. Vieira demonstrou muita preocupação que o conflito se amplie e acabe por transbordar para o resto da região.

“O Oriente Médio está em uma teia de conflitos, que levam a muitos sofrimentos, perdas, dificuldades, e falta de esperança. Esses conflitos desestabilizam a região e agora temos um risco concreto que essa crise em Gaza escale e se espalhe para outras partes. No meio desse enorme desafio, a diplomacia e o diálogo continuam sendo os nossos maiores trunfos,” disse brasileiro.

Vieira apontou que o conflito atual se iniciou há 75 anos e citou como algumas das causas a “opressão, a desigualdade e a violação dos direitos humanos”, indo em sintonia com o discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, que abriu a reunião do dia dizendo que Gaza sofre uma "ocupação sufocante" de Israel, motivando que o país pedisse a renúncia de Guterres.

Pela manhã, o presidente Lula, disse que a ONU não vem conseguindo influenciar o conflito do Oriente Médio porque "está enfraquecida". A declaração foi dada no programa Conversa com o Presidente, onde Lula além de cobrar a reformulação do Conselho de Segurança da ONU, também criticou o contra-ataque israelense em Gaza.

 

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