Horror no Oriente Médio

No Cairo, chanceler brasileiro acusa Conselho da ONU de 'paralisia'

Posição manifestada por Mauro Vieira foi entendida como um desabafo, devido à derrubada, pelos EUA, da resolução costurada pelo Brasil para a proteção dos civis vítimas do confronto entre Israel e o Hamas

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, considera que a "paralisia" do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) tem trazido "consequências prejudiciais para a segurança e a vida de milhões de pessoas". A crítica foi feita, ontem, na Cúpula Internacional para a Paz, no Cairo, que reuniu representantes de 30 países, além de organizações internacionais — como as Nações Unidas, a União Europeia, a União Africana e a Liga dos Países Árabes. A reunião serviu para tentar uma solução para o conflito entre Israel e o Hamas e mitigar a grave crise humanitária na Faixa de Gaza.

A posição manifestada pelo chanceler brasileiro foi entendida como um desabafo ao fato de os Estados Unidos terem derrubado, na quarta-feira, um acordo para o conflito costurado pelo Brasil — que contou com o apoio de 12 países, entre eles França e China, que têm assento permanente no conselho e poder de veto. Na votação, Rússia e Reino Unido se abstiveram.

Vieira também reforçou a posição do Itamaraty de condenar o ataque terrorista do Hamas e de cobrar uma ação de Israel para evitar a escalada da crise humanitária. "O governo brasileiro rejeita e condena, inequivocamente, os ataques terroristas perpetrados pelo Hamas. Cidadãos brasileiros estão entre as vítimas, três deles foram assassinados. Como muitos outros países, o Brasil também tem cidadãos à espera de serem evacuados de Gaza, enquanto observamos com alarme a deterioração da situação humanitária na região. Israel, como potência ocupante, tem responsabilidades no âmbito dos direitos humanos internacionais e do direito humanitário. Estas devem ser cumpridas em qualquer circunstância", cobrou.

Embora a cúpula da capital egípcia não tenha chegado a qualquer solução concreta para o conflito no Oriente Médio, Vieira avaliou o encontro como positivo. Observou que foi consenso entre os participantes "de que é chegada a hora de se negociar uma solução". "Houve, também, um consenso quanto à criação dos dois estados, independentes, vivendo lado a lado, em paz, com fronteiras internacionalmente reconhecidas", observou.

Segundo o chanceler, "há a necessidade imediata de uma ajuda humanitária e uma saída humanitária. É indispensável o fim das hostilidades e da violência que tem acontecido, com mortes repetidas e numerosas de ambos, ainda maiores do lado palestino. Uma situação calamitosa".

Ajuda insuficiente

Mesmo tendo sido vista como um alento, o chanceler disse que são insuficientes os 20 caminhões que cruzaram a fronteira do Egito com Gaza, ontem. "É muito pouco. Conversei com o secretário-geral da ONU (António Guterres), que disse que, para atender as necessidades mínimas, são necessários 100 caminhões por dia. Mas foi um primeiro passo", observou. Em Gaza, há aproximadamente 2 milhões de habitantes sitiados há duas semanas.

"Espero que nos próximos dias, amanhã ou depois de amanhã, logo que possível, se permita a saída dos brasileiros e de nacionais de outros países", disse Vieira.

E sai hoje o último voo Força Aérea Brasileira (FAB) que faz a ponte aérea com Israel para a repatriação. Mas, dessa vez, deve trazer uma quantidade maior de cidadãos de países que pediram ajuda ao Brasil — como Bolívia, Uruguai, Paraguai e Argentina.

A aeronave que chegou ontem trouxe os primeiros três cidadãos de países vizinhos — uma mãe e duas filhas, todas bolivianas, que vieram depois que três brasileiros, apesar de estarem na lista de embarque, não compareceram ao embarque no Aeroporto de Ben Gurion, em Tel Aviv.

Além do último voo que decola hoje de Israel, segue aguardando no Egito a aeronave da Presidência da República escalada para trazer o grupo de aproximadamente 30 brasileiros retidos em Gaza.

 

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