Com a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP30, já confirmada em 2025 na capital paraense, o governador do estado, Helder Barbalho, participou de alguns encontros na Europa na busca do protagonismo ambiental do estado e apoio para projetos de bioeconomia na região. Em Roma, na Itália, Barbalho participou de um encontro da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). Na ocasião, aproveitou para convidar o papa Francisco a visitar Belém e a Amazônia antes da realização da conferência da ONU.
“Nossa intenção em formalizar esse convite é para que ele possa fazer, in loco na Amazônia, aquilo que ele já vem fazendo a partir do Vaticano, sendo mais um instrumento de formação de opinião, um líder mundial em defesa da Amazônia em defesa da floresta e da dimensão que a floresta deve ter nas urgências climáticas”, disse o governador.
Logo após participar da mesa de abertura da conferência mundial da FAO, o governador conversou por telefone com o Correio e falou das expectativas em relação à parceria com a organização da ONU, que na sua opinião pode potencializar o financiamento de projetos de desenvolvimento econômico sustentável na região. Também demonstrou apreensão com a crise da estiagem que vem afetando o país, especialmente no Amazonas.
Veja os principais trechos da entrevista:
O que o senhor espera dessa viagem a Roma?
Estive o dia todo (quarta-feira, 18) na FAO, no Fórum Mundial de Alimentos. Participamos na conferência sobre bioeconomia, presidida pelo diretor-geral da FAO. Depois tivemos uma reunião só da nossa delegação com ele. Aprofundamos as possibilidades de parcerias, e a ideia é que possamos assinar uma primeira cooperação entre o estado do Pará e a FAO já na COP28, em Dubai. Queremos fortalecer a bioeconomia, e buscar a atuação da FAO na produção de alimentos, agricultura, agricultura regenerativa e sistemas florestais. Como a organização vai auxiliar? A FAO tem um olhar muito claro de fortalecimento da bioeconomia, de valorização da floresta viva, o que é exatamente o que defendemos, o que defende o estado do Pará. Tivemos outra agenda com a diretora-geral adjunta, detalhando mais com a equipe técnica.
E o papa Francisco?
Serei recebido por ele, junto com o arcebispo de Belém, que estará comigo, para formalizamos o convite para que ele possa, dentro da prioridade que ele tem dado, seja na encíclica, seja no sínodo, da agenda do clima, da agenda da floresta, da agenda da Amazônia, para que nós possamos fazer, em Belém, uma grande mobilização social e religiosa para ter a defesa da floresta, uma defesa da agenda socioambiental, antes da Conferência da ONU.
O papa pode ir a Belém em 2025?
Seria uma agenda pré-COP, antes da conferência, depende da agenda dele, pode ser em 2024 ou em 2025, mas seria antes da COP30. Queremos fazer uma grande mobilização pela Amazônia, reverberando o que já tem sido a prática dele, a defesa da floresta e a demonstração da preocupação de que a Igreja deve ter um papel importante no chamamento da sociedade para as urgências climáticas. Nossa intenção em fazer o convite é para que ele possa, in loco, na Amazônia, atuar como ele vem fazendo no Vaticano, sendo um instrumento de formação de opinião, como mais um líder mundial em defesa da Amazônia, em defesa da floresta e da dimensão dela nas urgências climáticas.
E a seca em Manaus? Como está o Pará?
Essa seca nos acende um alerta da necessidade urgente de evitarmos os impactos ambientais. A situação atual nos dá essa dimensão da urgência. Estamos falando da maior bacia hidrográfica do mundo, vivendo a pior seca da história, com o Rio Amazonas sofrendo com a menor cota da sua história. Isso deve ser visto como mais um alerta para os países e para a sociedade de que o meio ambiente está precisando ser escutado. Todos nós estamos sofrendo as consequências. No Pará estamos tendo pontos de seca na região do Baixo Amazonas, com algumas cidades já tendo decretando estado de emergência, a principal delas Santarém. O governo do estado está encaminhando 5 mil cestas e 5 mil galões de água para essas regiões do Baixo Amazonas e do Tapajós. As duas regiões são as mais atingidas, seja pelas secas, seja pela dificuldade de navegação em alguns rios, o que acaba prejudicando toda a logística de abastecimento. Também estamos conversando com as prefeituras sobre demandas de perfuração para garantir o abastecimento de água. Mas a realidade no Pará ainda é muito melhor do que a realidade que neste momento o Amazonas está vivendo. Estamos nos preparando, levando para a região de Santarém esta estrutura de atendimento assistencial, mesmo sem que ainda tenhamos a mesma escala que vemos no Amazonas.
A FAO faz o combate à fome, a saída verde pode ser a solução do problema?
A bioeconomia e o processo de agricultura familiar, sustentável, a partir de sistemas agroflorestais, entendemos que deve ser visto como a grande solução. Certamente é uma das estratégicas para a conciliação da vocação produtiva, principalmente no viés de agricultura familiar regenerativa, da lavoura, da pecuária e da floresta, fundamentalmente pela adoção da agrofloresta. Estimular um melhor uso do solo, valorizando culturas que possam se harmonizar com a floresta. Também apostamos que podemos intensificar a produção sem derrubar uma árvore sequer e continuar contribuindo para a vocação de produção alimentar, contribuindo para a segurança alimentar do planeta. O estado do Pará é o décimo em agricultura e o segundo em pecuária no Brasil, mas aquilo que já está antropizado no estado já é suficiente, o que precisamos é mudar a lógica da atividade. O cultivo extensivo sendo mudado para a atividade do cultivo intensivo, que é produzir mais sem derrubar uma árvore, produzir mais com aquilo que já está antropizado, que já está sendo utilizado. Queremos também inserir novas atividades, as regenerativas, de bioeconomia, fazendo essa transição do atual modelo, estimulando cultivos que dialogam melhor e de forma mais harmônica com o meio ambiente.
A parceria pode trazer recursos para esses projetos?
Queremos fazer um termo de cooperação com a FAO para promover a bioeconomia e usarmos o instrumento para conseguirmos apoio, junto dos parceiros da FAO, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, para impulsionarmos o nosso Plano Estadual de Bioeconomia. Mobilizar esses parceiros, em especial bancos de desenvolvimento e de cooperação. Acreditamos que a FAO vai nos ajudar nessa mobilização de captação de recursos que possam dar escala para as metas que já estão no nosso Plano Estadual de Bioeconomia, que foi lançado ainda ano passado, durante a última edição da COP, no Egito.
O Brasil tem recuperado o protagonismo ambiental, mas a exploração do petróleo na área amazônica pode impactar essa retomada?
Eu vejo uma clara confiança, com a liderança do presidente Lula, o reposicionamento do Brasil, que voltou a ser visto como um país que lida com o tema ambiental de forma prioritária. O país voltou a ser visto como alguém que deve estar na mesa, em um patamar de liderança nesse processo. Isso foi dito várias vezes, inclusive pelo secretário-geral da FAO, ressaltando a importância e a relevância da retomada do Brasil na liderança desse papel. Isso é para nós uma oportunidade gigante. O país voltou a liderar essa agenda, e ao mesmo tempo nós temos a presidência do G20 e uma COP em Belém em menos de 2 anos. Temos todas as condições e um alinhamento das visões que devem se multiplicar e impulsionar a oportunidade de deixar um legado no processo. É isso que estamos em busca, e o Brasil tem voltado a ter credibilidade. Eu não percebi qualquer ruído nas reuniões aqui sobre o posicionamento do Brasil.
E a Margem Equatorial*?
Isso sequer foi questionamento por aqui. Mas isso é uma discussão que a Petrobras tem de fazer com os órgãos ambientais. O que eu defendo, e fiz publicamente semana passada, é que o petróleo não é a vocação que o Pará escolheu, nós escolhemos a bioeconomia. O que nós queremos é que a Petrobras possa nos apoiar na transformação e na transição ecológica do Norte do Brasil, da Amazônia. Uma transição ecológica para que possamos fazer a floresta viva valer muito mais que a floresta morta.
*A região da Margem Equatorial, no estado do Amapá, é apontada como de grande potencial petrolífero. O Ibama recusou o pedido inicial de exploração da Petrobras, mencionando preocupações logísticas e ambientais. A avaliação foi que a solicitação não abordou adequadamente as medidas de proteção à fauna em caso de derramamento de óleo.
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