O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou, ontem, com o líder russo Vladimir Putin e pediu ajuda para a construção de um canal de ajuda humanitária na Faixa de Gaza e pelo qual um grupo de 30 brasileiros possa sair rumo ao Egito, onde um avião da Presidência da República os aguarda para serem repatriados. O governo já conseguiu trazer de volta mais de 1.400 brasileiros que estavam em Israel — o oitavo voo na madrugada de ontem, na Base Aérea do Galeão, vindo de Tel Aviv.
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“O cenário de rápida deterioração da zona de conflito entre Palestina e Israel foi discutido em detalhes, com profunda preocupação com o crescente número de fatalidades civis e ênfase na importância crítica de se conseguir um cessar-fogo, evacuando estrangeiros da Faixa de Gaza e garantindo acesso irrestrito ao enclave”, afirma nota do governo russo.
Lula e Putin concordaram que os reféns capturados pelo grupo terrorista Hamas — muitos dos quais estrangeiros ou com dupla nacionalidade — devem ser libertados o quanto antes. O presidente russo também comentou a proposta costurada pelo Brasil ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para permitir a abertura dos corredores humanitários e criticou o veto dos Estados Unidos — embora a Rússia tenha optado por se abster na votação. Assim como Lula, Putin também lamentou que não haja acordo pela “Solução de Dois Estados”, ou seja, a coexistência pacífica entre a Palestina e Israel.
Leste Europeu
Os dois trataram também sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que se estende há mais de um ano. Desde que chegou à Presidência, Lula vem defendendo a criação de um grupo de países neutros para mediar o conflito e tentar construir um acordo de paz. O Kremlin reconheceu, em nota, os esforços brasileiros por uma solução política e diplomática, mas atribuiu o prolongamento do conflito à “política destrutiva do regime de Kiev e seus apoiadores ocidentais”.
“Sobre o conflito com a Ucrânia, o presidente Lula reafirmou a disposição do Brasil para ajudar em qualquer mediação quando os lados envolvidos estiverem dispostos a falar de paz”, disse o Planalto. O governo russo, por sua vez, “reafirmou a abertura ao diálogo, desde que as exigências declaradas pela Rússia sejam cumpridas pelas autoridades de Kiev e que as novas realidades sejam levadas em conta”.
A posição sobre a guerra no Leste Europeu rendeu críticas a Lula — suas afirmações a respeito do conflito foram classificadas pró-Rússia. O presidente brasileiro chegou a sugerir, por exemplo, que a Ucrânia cedesse parte do território invadido em troca de um acordo de paz, ideia rejeitada com veemência pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Para Lula, a continuação do conflito somente demonstra que tanto russos quanto ucranianos “querem continuar com a guerra” e não estão abertos ao diálogo nem à moderação de um grupo de países não alinhados pela construção de um esforço de paz.
Brasileiro desaparecido
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) confirmou, ontem, o desaparecimento de mais um brasileiro na guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza. Michel Nisenbaum, 59 anos, tem dupla cidadania — israelense e brasileira. Ele não é visto desde 7 de outubro — quando o grupo terrorista entrou no território israelense e assassinou várias pessoas — e são poucas as informações sobre onde ele foi visto pela última vez.
O embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, confirmou com as autoridades locais o status de desaparecido de Michel. O MRE, porém, já tinha sido alertado pela família do brasileiro e pela Interpol no domingo. As mortes de outros três foram confirmadas pelas autoridades israelenses depois do ataque do Hamas: Ranani Glazer, 24 anos; Bruna Valeanu, 24; e Karla Stelzer, 42.
Até agora, mais de seis mil pessoas morreram na guerra no Oriente Médio — somente na Faixa de Gaza, foram contabilizados 4.651 óbitos e 14.245 feridos. A região está há semanas sob intenso bombardeio pelas forças israelenses. Em Israel, são 1,4 mil mortos, a maioria dos ataques iniciais do Hamas.
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