O ex-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) Hélio Doyle voltou a criticar Israel nas redes sociais após ser demitido do órgão nesta quarta-feira (18/10) por compartilhar uma postagem que chamavam apoiadores do País de "idiotas". Em outra publicação na noite desta quinta (19/10) Doyle disse que os simpatizantes dos israelitas seriam "cúmplices dos terroristas" comandados pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Doyle fez um comentário na postagem do cartunista Carlos Latuff que, indiretamente, causou a sua demissão. Na quarta, o então presidente da EBC compartilhou um post de Latuff que dizia: "Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante".
"Obrigado, Latuff. Você ainda está sendo moderado ao chamar os apoiadores e cúmplices dos terroristas comandados por Netanyahu só de idiotas e desonestos", afirmou o ex-presidente da EBC em nova postagem feita nesta quinta-feira.
Constrangimento ao governo
Ainda na quarta, Doyle foi demitido da EBC após se reunir com o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta. O ex-presidente disse que o compartilhamento do post, que foi mostrado pelo Estadão, criou um "constrangimento ao governo".
"O ministro Paulo Pimenta me manifestou hoje seu descontentamento por eu ter repostado, no X , postagem de terceiro acerca do conflito no Oriente Médio. Disse-me que a referida repostagem e sua repercussão na imprensa criaram constrangimentos ao governo", afirmou na rede social.
"Diante disso, pedi desculpas e comuniquei que deixo a presidência da EBC, agradecendo ao ministro Pimenta e ao presidente Lula pela confiança em mim depositada por todos esses meses."
Cautela
O Brasil tem adotado uma postura contrária ao conflito, porém com linguagem cautelosa. A orientação do presidente Lula é que a sua base se afaste do tema da guerra em Israel e foque esforços na pauta econômica. Na segunda-feira, 16, o diretório nacional do PT, porém, divulgou uma resolução sobre o conflito. O texto defende o fim das ações violentas e coloca no mesmo patamar os ataques do Hamas e a ação de Israel.
O presidente e alguns ministros usaram expressões como "ataques terroristas" e "atos terroristas", mas sem associá-las expressamente à organização responsável pelos ataques com assassinatos e sequestros de civis, incluindo crianças, em Israel nos últimos dias. O ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA) foi o único integrante do primeiro escalão a classificar o Hamas diretamente como terrorista nas redes sociais.
Na quarta-feira, os Estados Unidos vetaram, de forma isolada, uma proposta de resolução patrocinada pelo Brasil sobre a guerra no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O projeto previa pausas humanitárias no confronto e condenação dos ataques terroristas. Segundo a diplomacia dos EUA, o veto se deve à ausência de menção ao direito de autodefesa de Israel, apoiado por Washington.
Após a saída de Doyle da EBC, o governo Lula passou a orientar, informalmente, os servidores a tratarem com neutralidade a guerra em Israel. A recomendação do governo é direcionada, principalmente, a ocupantes de cargos de chefia, segundo informação da CNN.
Repúdio aos danos causados por Israel
Ao Estadão, Doyle afirmou na quarta que defende a existência de Israel e de um Estado Palestino e a coexistência pacífica dos dois povos. Segundo o ex-presidente da EBC, o compartilhamento da postagem representa um repúdio aos danos causados pela contraofensiva israelense.
"Defendo a existência de Israel e de um Estado Palestino, conforme resoluções da ONU, e a coexistência pacífica entre israelenses e palestinos. Condeno a ocupação de territórios palestinos por Israel, assim como qualquer violência contra civis praticada por qualquer um dos lados. Isso significa que, em relação aos fatos recentes, condeno tanto o Hamas quanto o governo de Israel. Ao compartilhar o post, o apoio a Israel ao qual me refiro é quanto aos ataques indiscriminados contra a população de Gaza", afirmou Doyle.
"Eu apoio totalmente a posição do presidente Lula e manter uma postura neutra pelo governo brasileiro é exatamente o que defendo e reforcei explicitamente como linha de atuação do jornalismo da EBC, como pode ser facilmente comprovado. O compartilhamento reflete minha posição acima, de protesto contra os ataques a civis, venham de um lado ou de outro. Talvez tenha também sido motivado pelo que considero hipocrisia dos que protestam justificadamente contra o ataque a israelenses, mas justificam os ataques a palestinos", disse.
Hélio é jornalista e foi professor da Universidade de Brasília (UnB) por 28 anos. Nomeado por Lula para presidir a EBC, ele estava à frente do órgão desde 14 de fevereiro. O salário bruto dele era de R$ 34.895,78.
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