A diplomacia brasileira espera encontrar um desfecho, nesta segunda-feira (16/10), para a longa espera dos 32 brasileiros que estão na Faixa de Gaza aguardando a autorização do governo egípcio para cruzarem a fronteira. Uma equipe da representação do Brasil no Egito, chefiada pelo embaixador Paulino Franco Neto, deslocou-se até a divisa para negociar in loco, e a expectativa é que os portões sejam abertos para os estrangeiros que desejam sair da área de conflito.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem negociando pessoalmente a abertura da fronteira e a criação de um corredor humanitário para socorrer os estrangeiros. Entre quinta-feira e sábado, ele tratou do assunto, por telefone, com os presidentes de Israel, Isaac Herzog; do Egito, Abdul Fatah al-Sisi; e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
Lula não enviou, no entanto, altas autoridades para tratar pessoalmente da questão, ao contrário do que fez Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. O chanceler Mauro Vieira encontra-se em Nova York, onde prepara uma resolução sobre o conflito, já que o Brasil preside, neste mês, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Biden enviou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, para reunir-se, ontem, pessoalmente com o presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, no Cairo. Os dois discutiram a abertura do canal de Rafah, na fronteira com a Faixa de Gaza, para a criação de um corredor humanitário. Ao deixar o encontro, Blinken anunciou que a fronteira será aberta e que o embaixador David Satterfield vai liderar os esforços humanitários. Esse acordo pode acabar ajudando os brasileiros e cidadãos de outros países que aguardam a abertura da fronteira.
O Egito tem resistido, sob o argumento de que existem problemas nas estradas devido a bombardeios aéreos e burocracias relacionadas à falta de documentos das pessoas interessadas em atravessar o portão de Rafah. Segundo analistas, Al-Sisi teme que integrantes do Hamas aproveitem para entrar no país.
Dos 32 cidadãos brasileiros que aguardam para retornarem ao país, 16 — quatro homens, quatro mulheres e oito crianças — foram deslocadas para Rafah, onde passaram a noite em um imóvel alugado pelo Ministério das Relações Exteriores. Elas estavam alojadas na escola Rosary Sisters, no norte de Gaza, que está sob ataque israelense.
Outras 16 pessoas — dois homens, cinco mulheres e nove crianças — são moradoras de Khan Yunis e aguardam a liberação em suas casas. A cidade fica a poucos quilômetros de Rafah. O grupo é composto por 22 brasileiros, sete palestinos portadores do Registro Nacional de Migração (RNM) e mais três palestinos, parentes próximos. De acordo com o Palácio do Planalto, "todos têm recebido acompanhamento psicológico, por profissional palestina contratada em Gaza, pelo escritório de representação do Brasil junto à Autoridade Palestina". O apoio do governo brasileiro inclui ainda o aluguel de transporte, abrigo e alimentação.
O avião VC-2 (Embraer 190) da Presidência da República, que levará os brasileiros, está parado em Roma desde sexta-feira, aguardando os trâmites diplomáticos com Egito, Israel e Palestina para seguir ao Cairo. A viagem encerrará a primeira fase da operação Voltando em Paz, deflagrada pelo governo federal após os ataques terroristas do Hamas a Israel no dia 7. Nessa primeira fase, foram resgatadas 916 pessoas.
De volta para casa
O 5º voo de repatriação de brasileiros que estavam em Israel chegou ao Rio de Janeiro, na madrugada de ontem, com 215 passageiros. A aeronave KC-30 decolou de Tel Aviv, Israel, por volta das 12h (horário de Brasília) de sábado e pousou no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro à 1h45 de domingo, segundo a Força Aérea Brasileira (FAB). A aeronave também trouxe 16 animais de estimação dos passageiros.
A articulação do governo brasileiro teve início no primeiro dia do conflito, 7 de outubro, quando o grupo extremista promovou atentados terroristas em Israel que se desdobraram em conflito armado de grandes proporções. No mesmo dia, o governo brasileiro criou um gabinete de crise. As embaixadas do Brasil em Tel Aviv, no Cairo, e o Escritório de Representação em Ramala (na Cisjordânia) foram acionados.
Quarta vítima
Gabriel Yishay Barel, de 22 anos, tornou-se mais uma vítima dos ataques perpetrados pelo Hamas. A notícia foi confirmada pela embaixada brasileira em Israel. Gabriel é filho do brasileiro Jayro Varella Filho. Desde o início do conflito, em 7 de outubro, três brasileiros perderam a vida em Israel: Bruna Valeanu, carioca de 22 anos; Ranani Nidejelski Glazer, gaúcho de 23 anos; e Karla Stelzer Mendes, carioca de 42 anos. Estes últimos dois tinham cidadania israelense e residiam em Israel havia vários anos.
Dezenas de cidadãos estrangeiros foram mortos, feridos ou feitos reféns desde a ofensiva lançada pelo grupo islamita palestino Hamas contra Israel, que já deixou mais de 1.300 mortos do lado israelense. Na Faixa de Gaza, as autoridades de saúde informaram que pelo menos 2.329 morreram nos bombardeios israelenses lançados em represália.
Enquanto trabalha para repatriar os brasileiros em Gaza, o Itamaraty negocia com as grandes potências uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que atenda tanto aos interesses de Israel, dos Estados Unidos, dos russos, chineses e palestinos.
Segundo informações do portal UOL, uma das versões propostas pelo Brasil condena "ataques terroristas do Hamas" e pede a libertação dos reféns israelenses, "num sinal claro por parte do Brasil para evitar um veto dos EUA". Mas o texto também faz um apelo para que o governo de Benjamin Netanyahu abandone seu ultimato para que os palestinos deixem o norte da Faixa da Gaza.
Manifestações
Centenas de pessoas fizeram, ontem, no Rio de Janeiro, um ato em defesa de Israel, país envolvido em um conflito com o grupo extremista islâmico Hamas. A manifestação foi organizada pela Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj).
Os manifestantes carregaram bandeiras e fotos de israelenses sequestrados pelo grupo palestino, percorrendo a orla de Copacabana, na zona sul da cidade, e entoaram frases como "Hamas, nunca mais", "Libertem os reféns" e "Hamas é terrorista". Ao fim do protesto, vários manifestantes rezaram em hebraico e cantaram o hino israelense.
"Essa manifestação é para condenar o terror e apoiar a existência do Estado de Israel. O que a gente muitas vezes vê, inclusive no nosso país, são pessoas complacentes com o terror. O terrorismo não é o caminho para chegar a lugar nenhum", afirma, em nota, o presidente da Fierj, Alberto David Klein.
Um vídeo circula nas redes sociais, no qual artistas como Mateus Solano, Regiane Alves, Isabelle Drumond, Caco Ciocler, Claudia Ohana, Claudia Raia e Enzo Celulari se posicionam contra o terrorismo e convidam as pessoas a apoiarem Israel nessa caminhada.
Em São Paulo, foi realizado um ato na Avenida Paulista, organizado pela comunidade palestina e apoiadores. O protesto pediu que Israel interrompa os bombardeios e ataques à Faixa de Gaza. Já em Brasília, manifestantes pró-palestina se concentraram no Eixão e realizaram um debate sobre o conflito na perspectiva histórica.
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