Integrantes do governo Lula aproveitaram as novas revelações do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, para enfatizar as intenções golpistas do ex-presidente. Os ministros da Defesa, José Múcio Monteiro, e da Justiça, Flávio Dino, ressaltaram a gravidade dos fatos narrados por Cid à Polícia Federal.
O ex-ajudante de ordens afirmou que Bolsonaro discutiu com a cúpula das Forças Armadas a possibilidade de um golpe de Estado, após a vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições. Ele teria mostrado uma minuta golpista aos militares, que incluiria convocar uma nova eleição e prender opositores. Também segundo Cid, o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, aderiu rapidamente à proposta.
Na avaliação de José Múcio, “muita gente não queria largar o poder” depois do pleito. Ele também destacou que o posicionamento pessoal de Garnier não reflete uma atitude geral da Força.
Múcio destacou não saber se almirante tinha “aspirações golpistas”, mas lembrou que foi o único comandante a não recebê-lo durante o governo de transição, entre novembro e janeiro.
Garnier também foi o único dos três a não participar da cerimônia de transmissão de cargo para os novos comandantes. “Ele não me recebeu, eu percebia. Os outros comandantes me receberam. Não sei se ele tinha aspirações golpistas, mas a gente via. Os jornais falavam. Era outro governo, outros comandantes, outro presidente da República”, frisou Múcio a jornalistas no ministério. “Na realidade, a gente percebia que muita gente não desejava sair do poder, largar o poder”, acrescentou.
Mesmo assim, Múcio manteve a postura que adotou desde a posse: de afastar do golpismo a imagem das Forças Armadas. Ele, inclusive, disse acreditar as três instituições “garantiram a posse do presidente” Lula. O chefe da Defesa bateu na tecla de que é preciso identificar quem são os militares envolvidos na possível tentativa, para que seja possível puni-los, preservando a integridade das instituições.
De acordo com Cid, quando Bolsonaro mostrou a proposta golpista, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, refutou e chegou a alertar o ex-presidente que teria que prendê-lo caso o plano fosse adiante. Por sua vez, o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, ficou calado.
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“Crimes graves”
Já o ministro Flávio Dino disse estar claro que “muitos crimes graves ocorreram” no entorno de Bolsonaro. Sem citar a participação dos militares, avaliou as informações prestadas pelo ex-ajudante de ordens como “impactantes”. E defendeu o mecanismo da delação premiada.
“É um documento probatório muito forte. A chamada colaboração premiada, segundo a lei brasileira, é um meio de produção de provas. Claro que a polícia está fazendo o seu trabalho, e depois a Justiça, mas (a delação) abriu caminhos novos para que todos alcancemos a verdade”, respondeu Dino, em entrevista após visitar o Santuário Nacional de Aparecida, em São Paulo.
Dino ressaltou que “infelizmente, a estas alturas já é possível vislumbrar que muitos crimes graves ocorreram, inclusive essa preparação de um crime que seria um golpe de Estado”.
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