Durou pouco a aventura tucana do senador pelo Podemos do Espírito Santo, Marcos do Val. Logo depois de anunciar, na tarde de ontem, o acordo para ingressar no PSDB, a Executiva Nacional dos tucanos comunicou que vetará a filiação do parlamentar capixaba no partido — apesar de seu nome já constar no site do Senado como novo integrante da bancada tucana.
Do Val comunicou a troca de legenda com uma foto com o líder tucano no Senado, Izalci Lucas (DF), responsável pela costura do acordo. Em nota, o senador capixaba disse que a mudança de partido foi "em comum acordo com o Podemos e com a anuência da presidente nacional da legenda, a deputada Renata Abreu (SP)".
Izalci buscava garantir ao PSDB a manutenção do gabinete de liderança na Casa, que inclui cerca de 20 cargos comissionados e um conjunto de salas bem em frente ao Plenário — ocupadas pelo partido desde 1988. Segundo as regras do Senado, só tem direito a essa representação as agremiações que contam com, no mínimo, três parlamentares.
O PSDB, que, no início do ano, contava com uma bancada de quatro senadores, acabou encolhendo com a saída de Mara Gabrilli (SP) — que migrou para o PSD — e de Alessandro Vieira (SE) — que partiu para o MDB. Sobraram apenas Izalci e Plínio Valério (AM). A Mesa do Senado estabeleceu o dia de hoje como prazo limite para que os tucanos deixem a liderança ou recomponham o número mínimo da bancada.
Um assessor do diretório nacional tucano disse que Izalci estava "muito ansioso com a sala e uma dúzia de cargos, mas se for para o PSDB perder a liderança, paciência e bola para frente". Interlocutores do senador do DF apontam que, depois da porta fechada a Do Val, Izalci já cogita deixar o PSDB, assim como Plínio Valério.
Oferecimento
Izalci propôs a Do Val que assumisse a liderança de um bloco que está sendo articulado entre o PSDB e o Podemos para formar a segunda maior bancada do Senado, com nove senadores. Se tornando, assim, o maior bloco de oposição ao governo na Casa.
Mas, segundo fontes do PSDB, a legenda vê o parlamentar capixaba como um problema para a imagem do partido em função do envolvimento dele em diversas investigações policiais — como as supostas conversas de teor golpista entre ele e o então presidente Jair Bolsonaro, em que se teria elaborado um plano para gravar e comprometer o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Pesa, ainda, contra Do Val o fato de se apresentar como "instrutor da SWAT", nos Estados Unidos. A SWAT (Táticas e Armas Especiais em inglês) é uma divisão existente em algumas polícias dos condados norte-americanos, e não uma força nacional. Além disso, se disse instrutor da SWAT de Dallas (Texas) e foi desmentido — ele teria feito um treinamento conjunto "com a Associação de Oficiais de Paz Tática do Texas (TTPOA), não específico para o Departamento de Polícia de Dallas", diz a nota da instituição.
Interlocutores de Do Val disseram ao Correio que "se o PSDB não quer aceitar a filiação, fica tudo como antes", ponderando que a decisão só cabe aos tucanos. Informaram, ainda, que o senador não pediu para se filiar, mas foi convidado por Izalci a tornar-se tucano.
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