Em um encontro esvaziado, dividido e sem dois dos principais líderes mundiais — o chinês Xi Jinping e o russo Vladimir Putin —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou, ontem, em Nova Délhi, na Índia, para participar da 18ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do G20 — grupo que reúne 19 das principais economias do mundo mais a União Europeia (UE). No encontro, que ocorre hoje e amanhã, o presidente brasileiro pretende tratar, principalmente, da agenda social — com foco no tema da desigualdade —, da transição energética e da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, Lula foi recebido com flores e um sinal na testa chamado "bindi", que, segundo o hinduísmo — religião predominante na Índia —, protege mulheres casadas e seus maridos. O anfitrião da cúpula, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, aposta no encontro como forma de ampliar a influência da Índia na geopolítica global.
A agenda oficial prevê para hoje duas reuniões bilaterais de Lula no âmbito do G20: com o presidente turco Tayyip Erdogan, e com o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, que presenteou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com joias avaliadas em mais de R$ 5,1 milhões. O chefe do Executivo brasileiro também participará da cerimônia de lançamento da Aliança Global de Biocombustíveis (GBA).
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Está prevista a participação de Lula em duas reuniões temáticas. O painel Um planeta tratará de desenvolvimento sustentável, transição energética, mudanças climáticas e preservação ambiental. O painel Uma família debaterá o crescimento inclusivo, o progresso nos objetivos de desenvolvimento sustentável, educação, saúde, e desenvolvimento liderado por mulheres.
Amanhã, Lula irá à cerimônia de deposição de oferenda floral no Memorial Raj Ghat Mahatma Ghandi, além de participar das atividades do dia de encerramento da cúpula do G20. Estão agendados encontros com o presidente francês, Emmanuel Macron, em que o acordo de comércio entre Mercosul e União Europeia será um dos assuntos.
Na terceira sessão da cúpula, o painel Um futuro abordará transformações tecnológicas, infraestrutura pública digital e o desafio da geração de empregos. No mesmo dia, o Brasil receberá pela primeira vez a presidência do grupo. O mandato brasileiro será exercido de 1º de dezembro de 2023 até 30 de novembro de 2024. Como país ocupante da presidência, será responsável por organizar a próxima cúpula, que deve ocorrer em novembro do ano que vem, no Rio de Janeiro. A transmissão do martelo de madeira será feito por Modi a Lula, que também deverá discursar. O presidente brasileiro ainda se reunirá com Mark Rutte, primeiro-ministro dos Países Baixos. A expectativa é que Lula conceda uma entrevista coletiva ao final da cúpula. A delegação presidencial retorna a Brasília na segunda-feira.
Prioridades
O Brasil chega ao evento com foco em pautas consideradas prioritárias para a gestão do presidente Lula. O primeiro tema a ser abordado será o combate à pobreza e à fome, que conta com diversos eixos de atuação do Executivo, como o programa Bolsa Família e um recém-lançado projeto de combate à insegurança alimentar. A diplomacia brasileira também deve discutir a transição para uma matriz energética mais limpa, mirando a contenção das mudanças climáticas.
Em relação à redução dos modais poluentes de energia, o Brasil está em vantagem, com 46% da matriz energética baseada em fontes renováveis, que reduzem o impacto sobre o meio ambiente. Lula também de abordar o cenário internacional, mas, diferentemente das demais nações que integram o bloco, sem ter como foco a guerra entre Rússia e Ucrânia. O presidente brasileiro deve concentrar seus discursos na necessidade de mudança na composição do Conselho de Segurança da ONU, apontando a necessidade de ingresso de outros países. O Brasil é candidato a integrar o conselho e busca apoio de outras nações, como os Estados Unidos.
No último dia 6, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ressaltou que Lula defenderá também temas como desenvolvimento sustentável, combate à desigualdade e proteção ao meio ambiente, mas vai tentar ampliar as discussões sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia.
"O presidente Lula tem feito uma grande divulgação da necessidade de se negociar a paz na Ucrânia. O Brasil é um dos poucos países do mundo que tem relações diplomáticas com todos os outros demais membros da ONU, e nessa condição falamos com Rússia e Ucrânia. Isso é indispensável na democracia. O local (G20) é ideal para fazer essas negociações de paz", defendeu Vieira na data.
O chanceler também defendeu a reforma do sistema multilateral e dos organismos internacionais, principalmente o Conselho de Segurança da ONU. "É necessário que os países que surgiram mais recentemente e se tornaram independentes tenham presença no grupo. Por exemplo, não existe nenhum país africano como membro permanente. É a chamada injustiça histórica", salientou. Conforme o governo brasileiro, também há a expectativa de confirmar a adesão da União Africana como membro pleno do G20.