Há mais de um mês, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), anunciou que os deputados André Fufuca (PP-MA) e Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) seriam os novos ministros do Centrão no governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim, passaria a contar com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e da ala evangélica representada pelo presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), que é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.
Os dois indicados são parlamentares que apoiaram Lula nas eleições passadas, mas foram apresentados como uma imposição do Centrão para garantir a governabilidade. Vem daí a demora para consolidar as indicações, o que deixou os dois parlamentares num constrangimento tremendo junto aos pares e às suas bases eleitorais. Sem que tivessem cometido qualquer pecado, foram parar no purgatório, de molho.
Ambos estavam numa frigideira de programa culinário de tevê. Houve duas razões para isso: a primeira, mais objetiva, é a lotação esgotada na Esplanada dos Ministérios, que exige a concessão de espaços pelo bloco de esquerda para os dois deputados; a segunda, as chantagens de Lira, às vésperas das votações de medidas importantes, como o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, o que tornaria essas nomeações uma rendição explícita.
O estilo de negociação do presidente da República é influenciado por sua experiência nas negociações das campanhas salariais, nas quais recorria às greves com frequência, a mais importante delas em 1978, quando se tornou famoso, e a luta interna no PT, nas quais as diversas tendências se digladiam e os acordos quase sempre são mediados por Lula, cuja autoridade vem da liderança carismática na sociedade, e não do controle absoluto sobre o aparelho burocrático.
As pressões exageradas, impostas pela soberba de Lira, incomodam Lula, que não pretende ser refém do Centrão. Um senador petista contemporiza: "O Lira negociava dessa forma com Bolsonaro porque ele não entregava o que prometia, a Câmara exigia primeiro o cumprimento dos acordos por parte do governo, o que somente se resolveu quando o presidente do PP, Ciro Nogueira, assumiu a chefia de Casa Civil. Com Lula é diferente, ele só vai fazer as entregas depois que as medidas do governo forem aprovadas, para não dar a impressão de que foi dominado por Lira", explica.
Dança de cadeiras
Nesta segunda-feira, Lula passou o dia tratando da reforma ministerial. Nos bastidores, falava-se que o Ministério do Esporte seria destinado ao deputado André Fufuca, e a pasta de Portos e Aeroportos, ao deputado Silvio Costa Filho. Teria batido o martelo após reunião com os ministros Alexandre Padilha, Rui Costa (Casa Civil) e Paulo Pimenta (Comunicação Social).
A reunião vazou, mas quem conhece Lula sabe que esse tipo de decisão só se consolida quando publicada no Diário Oficial da União. Foi o que aconteceu com Valdir Pires, então ministro da Defesa. Lula pretendia demiti-lo, mas a notícia vazou antes que conversasse com ele. Ao ler os jornais, mudou de ideia e manteve o ministro, seu principal aliado na Bahia. Lula ainda não havia conversado, nesta segunda-feira, com Ana Moser, a ministra do Esporte, e Márcio França, dos Portos e Aeroportos.
Ana Moser é uma personalidade reconhecida no mundo esportivo, faz parte simultaneamente da cota pessoal de Lula e da cota das mulheres. Fala-se que a ela seria destinada o papel de Autoridade Olímpica, mas esse é um cargo que só existe no país onde se realizam as Olimpíadas. Também já se falou na nomeação dela para a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mas seria uma intervenção, porque a direção do COB é eleita pelas confederações esportivas (34), comissão de atletas (9) e dois membros do COI no país. Em caso de intervenção, segundo a Carta Olímpica, o país é suspenso do movimento olímpico.
Márcio França é um player da política paulista. Foi governador de São Paulo e é um dos principais dirigentes do PSB. Supõe-se que poderia ir para o Ministério da Pequena e Média Empresa, pasta que Lula pretende criar. Para isso, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, ocupado por Geraldo Alckmin, seria desmembrado, mas isso precisa ser bem combinado com o vice-presidente da República, que é o mais mineiro dos paulistas. Caso a reforma não saia até o 7 de Setembro, ficará para a volta de Lula da reunião do G-20, em Nova Délhi, na Índia.
Enquanto as coisas não se decidem, Lira toca a barco. Nesta segunda-feira, no Recife, durante o Fórum do Nordeste, afirmou que pretende pôr na agenda legislativa do semestre as propostas que contribuem para a transição energética, ou seja, a substituição da geração e do consumo de energia de fontes não renováveis e mais poluentes (petróleo, carvão, por exemplo) por fontes de energias renováveis (energia solar, eólica, biomassa).
Entre os projetos, destaca-se a regulamentação do mercado de créditos de carbono. A proposta permite às empresas compensarem a emissão de gases de efeitos estufa e comprar em créditos umas das outras. O governo trabalha para aprová-la no Congresso Nacional até a COP30, a Conferência da ONU sobre Mudanças do Clima prevista para 2025, em Belém.
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