investigação

CPMI dos Atos Golpistas: poucos avanços e muita confusão

Comissão segue sem obter informações relevantes dos depoentes, caso do ex-ministro Augusto Heleno, que, inclusive, mentiu na oitiva

O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, perdeu a linha com a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama, e disparou palavrões -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, perdeu a linha com a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama, e disparou palavrões - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
postado em 27/09/2023 03:55

Prestes a encerrar os trabalhos — a previsão é de que o relatório fique pronto em 17 de outubro —, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro não consegue deslanchar nas investigações sobre os atos golpistas.

A sessão desta terça-feira foi mais uma em que o depoente pouco ou nada acrescentou à apuração. O general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), só respondeu às perguntas que quis — respaldado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) —, não forneceu informações novas e ainda mentiu ao colegiado.

O depoimento foi marcado por tumultos e bate-bocas, o que se tornou comum na CPMI. Houve respostas ríspidas do militar, inclusive com palavrões, ataques a parlamentares mulheres e ofensas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Heleno classificou com “fantasia” o suposto teor da delação premiada feita pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. O militar teria dito à Polícia Federal que houve uma reunião entre o então chefe do Executivo e a cúpula das Forças Armadas em que se discutiu um golpe de Estado.

“Quero esclarecer que o tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões, ele era o ajudante de ordens do presidente da República. Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar numa reunião dos comandantes de Força e participar da reunião. Isso é fantasia”, argumentou Heleno.

Segundo o general, nos últimos meses, ocorreu uma supervalorização “do papel de auxiliares cujo limite de atuação era muito estreito”. “É bobagem achar que uma conversa vai arrastar uma multidão de generais para dar um golpe”, completou.

Heleno, porém, foi confrontado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG). O parlamentar exibiu uma foto na qual Cid aparece em uma reunião de Bolsonaro e comandantes das Forças Armadas, no Palácio do Planalto. O depoente mudou, então, o discurso. Disse que o ajudante de ordens não participava ativamente das reuniões.

O general se esquivou de responsabilidade nos ataques golpistas, ao afirmar que deixou o cargo em 31 de dezembro. Também disse que, para ele, o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, não era uma ameaça e, por isso, não agiu para desfazê-lo. “Nunca considerei o acampamento algo que interessasse à segurança institucional”, sustentou.

Em alguns momentos, o militar perdeu a paciência e foi transfóbico ao chamar a deputada Duda Salabert (PDT-MG) de “senhor”.

O ex-ministro também perdeu a linha com a relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA). A senadora questionou se ele considerava ter havido fraude nas eleições. “Já tem o resultado, já tem novo presidente da República, não posso dizer que foi fraudado”, respondeu. A parlamentar acrescentou, então, que o militar havia mudado de ideia. “Ela fala as coisas que ela acha que estão na minha cabeça. P*, é para ficar p*. P* que pariu”, disparou.

Bolsonaristas inscritos para falar na CPMI causavam tumultos que atrapalhavam o andamento da oitiva e aplaudiam o general em algumas ocasiões, principalmente depois que ele afirmou que “bandido não sobe a rampa”.

Após seguidas interrupções, o presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), decidiu expulsar o deputado Abílio Brunini (PL-MT) do plenário.

“Aqueles momentos de bate-boca, de irritação, fazem parte, e tem gente que quer se promover às custas do bate-boca e da irritação. Tem gente que vem para CPMI apenas para fazer o papel do palhaço”, disse Maia. “O Brasil está vendo aqueles que estão vindo para a CPMI com propósito deliberado de querer tumultuar e de fazer do seu mandato parlamentar um circo”, completou.

Mesmo com esse cenário, Eliziane Gama avaliou que o depoimento do general foi positivo, mas o foco agora é ouvir outros militares. “Estamos com o olhar voltado para a presença e a participação de militares”, destacou. Um dos alvos é o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha. De acordo com Mauro Cid, ele aceitou a proposta golpista feita na reunião com Bolsonaro. Requerimentos para convocar o militar devem ser votados na sessão desta quinta-feira.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação