O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve decidir, nas próximas horas, a sucessão de Augusto Aras na Procuradoria Geral da República (PGR) — a expectativa é de que se despeça amanhã do cargo —, antes de o chefe do Planalto se submeter à cirurgia de quadril, marcada para o dia 29. Já a definição sobre quem substituirá a ministra Rosa Weber na cadeira do Supremo Tribunal Federal (STF) fica para a primeira quinzena de outubro. Para analistas da cena política ouvidos pelo Correio, esse martelo será batido depois não somente pelo fato de preencher uma cadeira na Corte ser uma questão delicada — e repleta de pressões. Mas, também, porque Lula quer evitar, por ora, polêmicas que possam ofuscar os bons resultados colhidos na ida à Nova York, para a Assembleia geral das Nações Unidas.
Lula tem sido instado a escolher uma mulher negra para suceder Rosa. Nesse caso, no entanto, o presidente não deverá escolher com base em gênero ou raça, mas em afinidade com o governo. A prevalecer esse parâmetro, o mais cotado é o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, seguido do advogado geral da União, Jorge Messias. No caso da PGR, não se acredita que Lula tirará um nome do bolso do colete — assim, o vice-procurador-geral eleitoral Paulo Gonet e o subprocurador-geral Antônio Carlos Bigonha são os que têm mais chances.
Para o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, "abrindo uma vaga no ministério (da Justiça com a eventual ida de Dino para o STF), ele pode indicar uma mulher. Há uma grande expectativa, especialmente do PT, para que ele decida logo a questão".
Professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart observa que dificilmente Lula correrá riscos nos casos da PGR e do STF. "A essa opção representa serem homens e brancos. Isso se confronta com a demanda dos movimentos populares, políticos e de membros do próprio PT de que as indicações sejam para aumentar a representatividade nessas instituições", avalia.
Centrão
Existem outros pontos no rol de preocupações de Lula. Na avaliação de personagens do Centrão, ainda há cargos a serem cedidos pelo governo para que os votos decisivos no Congresso possam se materializar. O grupo manejado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ainda pretende o comando da Caixa Econômica Federal — e ameaça o cargo de mais uma mulher, Rita Serrano.
Porém, o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, crê que a solução para isso não virá a curto prazo. "Há uma discussão sobre o quanto é confiável o PP, mesmo tendo ministérios e presença no governo. Acredito que Lula vá tentar levar essa questão em banho-maria o quanto for possível, pois envolve inúmeras outras negociações", afirma.
Ricardo Ismael, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), reforça que Lula evitará mexer em vespeiros pelos próximos dias. "O presidente voltou com um saldo positivo da viagem internacional. Não me parece que vá entrar em questões polêmicas. Creio que ele vai preferir ouvir mais, pensar a respeito e só decidir depois da cirurgia. Vai procurar surfar nos bons resultados da viagem internacional e evitar colocar um fato novo que possa gerar controvérsia e polêmica que apagaria essa agenda positiva", destaca.
Sérgio Praça, especialista em política brasileira e professor da FGV, avalia que o ponto mais sensível da agenda presidencial é a indicação para a 11ª cadeira do STF. E caso opte por Dino, o presidente deve estar preparado para uma chuva de críticas pesadas, inclusive de setores que o apoiam.
"Dino como sucessor da Rosa Weber parece ser certo. Se assim ocorrer, será um baque para quem acha que o governo do presidente tem um foco mínimo no aumento da representatividade de mulheres em cargos de liderança pública", adverte.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br