O procurador-geral da República, Augusto Aras, deve deixar, na próxima terça-feira, o cargo de chefe do Ministério Público Federal depois de quatro anos à frente da instituição. Sai com um histórico de alinhamento com Jair Bolsonaro e leva no currículo a tentativa de se desgarrar do ex-presidente depois da invasão às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro — quando surpreendeu, na abertura do ano do Judiciário, com um discurso diante dos ministros do Supremo Tribunal federal (STF) no qual disse três vezes "eu te amo" para a democracia.
Na semana passada, Aras participou da última sessão representando o MPF na Corte. Em discurso no Plenário, na sessão que sepultou o marco temporal para demarcação de terras indígenas, afirmou que sua gestão sofreu com "incompreensões" e "falsas narrativas, dissonantes com o trabalho realizado".
"As instituições se fazem de pessoas que por elas passam. O Ministério Público há sempre de contribuir para o aprimoramento do nosso contínuo processo civilizatório e fortalecimento do nosso Estado Democrático de Direito", salientou o procurador-geral.
Aras foi acusado de engavetar representações contra o ex-presidente, que o indicou e o reconduziu ao cargo. Uma delas sobre a eventual omissão de Bolsonaro na gestão da pandemia de covid-19 e ações que tentaram desmobilizar o isolamento social e outras medidas sanitárias — como o uso de máscaras de proteção e a vacinação contra o vírus.
Ele também foi acusado de acabar com a Operação Lava-Jato — que trouxe à tona desvios e prejuízos bilionários aos cofres da Petrobrás — ao desmobilizar as forças-tarefa. Por conta disso, seu nome chegou a ser defendido por setores do PT para que continuasse à frente da PGR. Além disso, esses mesmos petistas ressaltavam que a fidelidade que teve a Bolsonaro poderia se repetir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que isso poderia ser um trunfo interessante. Mas as críticas generalizadas à conduta de Aras minaram suas segunda recondução.
O esforço do atual PGR em se manter onde está parece ter sido em vão. Lula se reuniu com os dois mais cotados para suceder Aras: o subprocurador-geral da República Antonio Carlos Bigonha — que tem elações de amizade com ex-cardeais petistas como José Dirceu e José Genoíno — e o vice-procurador-eleitoral Paulo Gonet — que conta com o apoio de ministros do STF e é um nome de agrado do Centrão. O anúncio do substituto deve ocorrer nesta semana, após Aras sair oficialmente.
Lula está inclinado a não seguir a lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da Repúblicas (ANPR). A relação é composta de Luiza Frischeisen (candidata mais votada, com 526 votos), Mário Bonsaglia (segundo colocado, com 465) e José Adonis Callou (407).
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