Nova York — Depois de muito mal-estar e trocas de farpas — como na reunião do G7, em Hiroxima, no Japão, em maio, quando um ignorou o outro e se acusaram mutuamente de não quererem se encontrar —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, finalmente se encontram amanhã, em Nova York, onde estão para a 78º Assembleia Geral das Nações Unidas. A reunião servirá, sobretudo, para reafirmar a posição brasileira de condenação à Rússia pela invasão do território ucraniano, embora Lula jamais tenha verbalizado isso com clareza. Ao contrário, deu a entender que tinha lado no conflito não criticando a aventura expansionista de Vladimir Putin.
As negociações para que os dois chefes de Estado e de governo se encontrassem vêm desde a semana passada. O chanceler Mauro Vieira e seu congênere ucraniano, Dmytro Kuleba, vinham ajustando a possibilidade de Lula e Zelensky aproveitarem a passagem por Nova York para uma reunião — que acontecerá às 17h de Brasília. O assessor especial e ex-ministro das relações Exteriores Celso Amorim afirmou ao Correio que "o encontro se dá só agora, porque as agendas permitiram. Foi ele (Zelensky) que pediu o encontro". O presidente ucraniano chegou ontem aos Estados Unidos.
O tema do encontro é sobre a possibilidade de se construir um acordo de paz que ponha fim ao conflito no Leste Europeu. Fontes próximas a Lula afirmam que ele mais ouvirá do que falará e que será a chance de Zelensky expor um plano de 10 passos para que o confronto seja suspenso. O presidente brasileiro chegou a sugerir que a Ucrânia abrisse mão de parte de seu território a fim de demonstrar "boa vontade" em suspender as agressões, mas esta possibilidade está fora de questão para o governo ucraniano.
Dubiedade
Lula, inclusive, desde que assumiu o governo tem tentado se colocar como um dos interlocutores — ele integraria um colegiado de países não alinhado a qualquer dos lados no conflito — para a construção de um tratado de paz. Entretanto, como o presidente deu uma série de declarações dúbias sobre a guerra, a Ucrânia guarda muitas dúvidas sobre alguma proposta que venha do Brasil.
Em março, Lula e Zelensky conversaram por telefone. Mas, em maio, quando houve a possibilidade de se encontrarem durante a cúpula do G7 no Japão, os dois lados alegaram problemas de agenda — apesar de não ter passado despercebida a cena em que o presidente brasileiro ignorava o ucraniano, que acabara de chegar a uma das reuniões do grupo e era cumprimentado efusivamente por vários chefes de Estado e de governo.
À época, a diplomacia brasileira afirmou ter oferecido dois horários de reunião para Zelensky, mas ele simplesmente não compareceu ne justificou a ausência. Já a de Kiev atribuiu à equipe de Lula demora em responder sobre a disponibilidade do encontro — e quando o fez, o líder ucraniano agendara outros compromissos.
O encontro com Zelensky ocorre, também, depois de Lula ter afirmado que Putin não seria preso se viesse ao Brasil para a reunião do G20, embora da ordem de prisão por crimes de guerra decretada pelo Tribunal Penal Internacional, do qual o Brasil é signatário. O presidente recuou naquilo que dissera. Além disso, criticou o TPI e anunciou que estudaria a possibilidade de o Brasil deixá-lo.
Apesar dos desencontros e desconfianças da parte dos ucranianos, Lula tem defendido a criação do que chama de "clube da paz", que negocie o fim da guerra — que já dura um ano e meio. O presidente brasileiro deve embarcar de volta ao Brasil logo depois do encontro com Zelensky. (Com Ingrid Soares)
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