De que maneira um político cuja atuação foi marcada pela discrição pode ser um personagem influente dos bastidores de Brasília, um conselheiro e uma referência? É isso que o livro O estilo Marco Maciel, do jornalista Magno Martins, desvenda ao lembrar a história do pernambucano que ocupou cargos importantes em um período conturbado da política nacional — sobretudo quando deixou de apoiar o regime dos generais para apoiar a eleição de Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral. Esse mesmo tráfego nos bastidores do poder levou Maciel à vice-presidência de Fernando Henrique Cardoso e seus dois governos, entre 1995 a 2003.
Em 216 páginas, Martins relata passagens diversas de uma carreira política que durou 46 anos. Inicialmente, Maciel se elegeu deputado estadual, pela Arena, em 1966, partido que sustentou a ditadura. Foi eleito duas vezes deputado federal pela mesma legenda e governador biônico de Pernambuco, no governo Geisel, em 1978. Também foi ministro de José Sarney — da Educação e da Casa Civil — e senador.
Segundo Martins, Maciel foi uma das mais importantes vozes que convenceram parte da direita a apoiar Tancredo. "Ele usou a infinita capacidade de construir consensos, principalmente em 1984. Tornou-se peça-chave na criação de uma aliança com os oposicionistas ao regime militar e operou a transição sem que se derramasse uma gota de sangue. Teve papel tão importante que chegou a ter o nome ventilado para vice de Tancredo", salienta Martins. Maciel morreu em junho de 2021, aos 80 anos, vítima do Alzheimer.
"Líder da transição"
Na apresentação do livro, o ex-senador e ex-governador Jorge Bornhausen, um dos líderes da direita no regime militar, classificou Maciel como "o grande líder da transição democrática". Já FHC, no testemunho para o livro, contou que Maciel "apagou vários incêndios, agindo na hora certa e com muita competência, sabedoria e respeito".
"Não conheço registro na história da política brasileira de um político tão correto, honesto, leal e firme. Está fazendo muita falta ao Brasil neste momento", frisou o ex-presidente.
Nas rodas políticas de Brasília, Maciel era considerado o "vice ideal" pela discrição, a simplicidade e o silêncio. Uma personalidade que, segundo Martins, se verificava também na vida pessoal, pois o político tinha certo desapego a bens materiais. Só teve um carro, um Opala, e para comprar uma residência em Brasília, precisou vender a de Recife.
O autor ressalta que Maciel levou uma vida modesta, de classe média, "literalmente franciscana". "Dedicou-se à vida pública como um sacerdócio. Não construiu patrimônio nem acumulou riquezas. Por muito tempo só teve um carro, que ficou de herança para o motorista que com ele trabalhou a vida inteira", observa Martins.
A obra já foi lançada na Academia Brasileira de Letras (ABL), mas, em Brasília, O estilo Marco Maciel chega ao público dia 26, em evento no Senado.
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