A semana começa com a capital federal em suspense sobre os efeitos da delação premiada de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Novas diligências são esperadas para os próximos dias, a partir do acordo de colaboração fechado com a Polícia Federal. Após a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o Exército confirmou, ontem, que Mauro Cid será afastado das suas funções nas Forças Armadas. A determinação do magistrado foi estipulada na homologação da delação premiada.
"O Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Exército Brasileiro cumprirá a decisão judicial expedida pelo ministro Alexandre de Moraes e o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid ficará agregado ao Departamento-Geral do Pessoal (DGP) sem ocupar cargo e exercer função", diz a nota.
Com a decisão, Mauro Cid, que era adjunto na Chefia de Preparo do Comando de Operações Terrestres no Quartel-General da força em Brasília, perdeu cargo e função, no entanto seguirá recebendo a remuneração de oficial superior, o que corresponde a sua patente de tenente-coronel do Exército.
Esta é uma das medidas impostas por Moraes para que o militar pudesse receber liberdade provisória. Cid, além de usar tornozeleira eletrônica, não poderá deixar a casa aos fins de semana e pela noite. Está proibido também de deixar o país e recebeu cinco dias para entregar o passaporte. A decisão do magistrado prevê que qualquer outro passaporte que tenha emitido em seu nome seja revogado. Ele ainda teve seu porte de arma de fogo, bem como o registro para coleção, tiro esportivo e caça suspensos.
O acordo entre Mauro Cid e a PF ocorreu no âmbito do inquérito das milícias digitais, que investiga, entre outros casos, os atos antidemocráticos e a minuta golpista encontrada no celular do tenente-coronel; fraudes no sistema do Ministério da Saúde para a inserção de dados falsos de vacinação contra covid-19 envolvendo o militar, a esposa Gabriela, a filha, Bolsonaro e a filha Laura, de 12 anos; e o esquema de vendas de joias da Presidência, em que Cid teria vendido dois relógios — um da marca Rolex e outro da Patek Philippe — nos Estados Unidos por US$ 68 mil, cerca de R$ 346 mil, e depois se unindo ao advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, em uma "operação resgate".
Para o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Sérgio Praça, o caso das jóias poderá se equiparar aos escândalos do mensalão, escândalo de compra de votos no Congresso que ameaçou derrubar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva em 2005, e do petrolão, alvo da Operação Lava-Jato que buscava apurar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou bilhões de reais em propina. "O esquema das joias tem tudo para ser o 'mensalão' e 'petrolão' de Bolsonaro. Ele e seus aliados tentaram se apropriar de bens públicos, imaginando que ninguém perceberia ou então que ele seria reeleito ano passado e assim conseguiria controlar os órgãos de investigação, como a Polícia Federal", observa o especialista.
Sérgio Praça analisa que, com o avanço nas investigações que a delação poderá trazer, aumentam as chances de o ex-presidente ser preso, mas pondera que, "ainda assim, ele continuará tendo influência e importância política". "Existem parlamentares hiperbolsonaristas, como por exemplo a deputada Carla Zambelli (PL-SP), e outros que foram bolsonaristas de ocasião, que acredito ser a maioria do PL. Os hiperbolsonaristas continuarão defendendo Bolsonaro até o fim, eu acho. Os bolsonaristas de ocasião tendem a pular fora, tomando cuidado para não deixar os eleitores ultraconservadores insatisfeitos, o que é uma tarefa bastante difícil", avalia o cientista político.
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