Com Evandro Éboli
A prometida reforma ministerial virou um imbróglio que se arrasta há meses, mas há a expectativa de que seja resolvido hoje. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue na busca por ampliar a base de apoio na Câmara, mas a articulação do governo enfrenta tanto a voracidade do Centrão quanto as queixas de aliados de primeira hora, que não querem perder espaço na Esplanada.
O Progressistas (PP) sinalizou ao Planalto o descontentamento com a possibilidade de assumir o Ministério dos Esportes. A situação deve ser contornada se houver uma turbinada na pasta, com a incorporação da secretaria que vai cuidar da arrecadação de jogos e teria um incremento orçamentário de R$ 2 bilhões em 2024 — a área estava prevista para integrar o Ministério da Fazenda. Essa medida, porém, tem de ser aprovada pelo Congresso.
A ministra dos Esportes, Ana Moser, foi chamada para uma reunião, nesta terça-feira, com Lula. Ela cancelou compromissos, e especulava-se que o encontro marcaria a demissão da ministra. Sem declarações oficiais, fontes do Planalto afirmaram que o encontro terminou com a titular da pasta ainda no cargo. "Hoje (terça-feira), não foi demitida, mas isso não significa que ela necessariamente seguirá (no cargo de ministra)", disse uma fonte palaciana. Já no Congresso, um importante líder do governo afirmou, sem rodeios, o contrário: "Se não foi (demitida), será".
No processo de negociação, o que se diz na Câmara é que o governo preferiu, antes de divulgar a reforma, aguardar a aprovação do texto-base do programa Desenrola, que estabelece a renegociação de dívidas e passou na Câmara por 360 votos a favor e 18 contra. Pessoas ligadas ao ministério sustentaram que Lula teria pedido mais um dia para Ana Moser, tempo em que o governo deve tentar resolver o impasse com o PP.
Porém, mesmo com os aliados de primeira hora, a reforma ministerial sofre resistências. O ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, disse a interlocutores que preferia sair do governo do que ir para um Ministério de Pequenas e Médias Empresas, que seria criado para acomodar o socialista. Nessa negociação, o vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSB, mesmo partido de França, entrou no jogo para acalmar os ânimos.
Interlocutores apontam que Lula teria desistido de criar esse ministério porque ninguém se interessou, mas como o Portos e Aeroportos segue sendo a pasta cotada para ser entregue ao deputado federal Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE), fala-se na possibilidade de França assumir a Indústria e Comércio, hoje com Alckmin. O vice-presidente deixaria de ser ministro, mas assumiria o comando do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão.
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"Quimera"
O deputado André Fufuca (PP-MA), líder do Progressistas na Câmara e principal cotado para ocupar a pasta de Moser, até a noite desta terça-feira não se entendia como ministro. A pessoas próximas, tem dito que 90% do que sai na imprensa não procede e que o ministério "turbinado" é, até agora, uma "quimera".
Fufuca caminhava, nesta terça-feira, pelo Salão Verde da Câmara quando foi abordado, logo na entrada do plenário, pelo colega Antônio Brito, líder do PSD e primeiro vice-líder do maior bloco da Casa, formado por legendas do Centrão. "Ministro! Espera, ministro. Se não está atendendo agora, imagina depois que assumir", disse sorrindo Brito a Fufuca, no diálogo observado pelo Correio.
Fufuca voltou e negou: "Não tem nada disso". E mostrou ao colega um papel com alguma informação que apenas Brito viu e nenhum dos dois quis revelar à reportagem. A interlocutores, tem dito que nada lhe foi apresentado, e ir ou não para o governo ainda deve passar por uma última conversa com sua bancada.
A expectativa é de que, ao longo do dia de hoje, Lula se reúna com Alckmin e Fufuca para buscar uma solução que agrade a todos. Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, também comentou sobre reforma ministerial. Disse que "todos ficarão felizes" com a decisão. Questionado sobre quando a "novela" acabaria, afirmou que seria entre hoje (terça-feira) e amanhã (esta quarta-feira).
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