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Bolsonaro pode ter levado militares a cometer crimes, afirma Dino

Ministro da Justiça e Segurança Pública destaca a possibilidade de o ex-presidente não ter "dado ordens corretas" a integrantes das Forças Armadas

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro pode ter induzido militares a cometer "erros ou até crimes" durante a sua gestão. Ele esteve reunido, nesta quarta-feira, com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, em meio a investigações da Polícia Federal que apontaram o envolvimento de integrantes da cúpula das Forças Armadas em articulação para um golpe de Estado. As revelações recentes da corporação tensionaram a relação entre o governo e a caserna.

"Temos a compreensão de separar o que são condutas institucionais de condutas individuais. Nós temos de lembrar também que, constitucionalmente, o comandante-em-chefe das Forças Armadas é o presidente da República", comentou Dino a jornalistas na saída do encontro, ocorrido na sede da Defesa. "No período passado, talvez, o comandante supremo da época, o ex-presidente da República, não tenha dado ordens corretas. E isso pode ter gerado que alguns membros das Forças Armadas tenham, eventualmente, cometido erros ou até crimes."

De acordo com o ministro, a reunião na Defesa tratou "das boas relações" entre os dois ministérios e as Forças Armadas, especialmente sobre ações de segurança pública nas regiões de fronteira. Dino disse ainda que conversou "um pouco sobre eventos recentes", mas que as investigações não foram o foco do encontro.

Ele foi questionado também a respeito do pedido de José Múcio para acessar os nomes de militares que se reuniram com o hacker Walter Delgatti Neto — supostamente a pedido de Bolsonaro — para discutir a vulnerabilidade das urnas eletrônicas.

A PF negou a solicitação, já que a investigação está sob sigilo de Justiça e apenas o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito, pode autorizar o acesso à informação.

Sem "agonia"

Dino refutou, porém, haver "planejamento" para acessar os nomes. José Múcio, por sua vez, já pediu os dados ao STF. "Há uma ideia de deixar as investigações caminharem normalmente, nos termos da lei, sob a condução do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal", frisou o titular da Justiça. "Não há agonia, precipitação neste momento, porque há consenso de que as pessoas que erraram, que cometeram crimes, civis ou militares, devem ser investigadas e punidas", acrescentou.

Segundo Dino, as Forças têm autonomia para punir eventuais envolvidos em crimes ou transgressões disciplinares. Questionado, disse não acreditar que as três instituições estejam devendo punições nos casos de possível envolvimento com trama golpista. "Isso está sob a autoridade do STF. Em outros episódios, tenho certeza de que haverá a atuação desse sistema disciplinar. Friso: assim como estamos fazendo em relação aos civis, estamos fazendo em relação aos militares, individualizando condutas", destacou. "Não há julgamento das Forças Armadas. Pessoas que eventualmente sejam militares serão eventualmente julgadas."