investigação

CPMI: em dia de tumulto, sessão é cancelada

Estopim foi pedido para quebrar sigilos da deputada Carla Zambelli e convocá-la a depor. Reunião desta quinta-feira ouvirá o militar Luis Marcos dos Reis

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas de 8 de janeiro ficou dividida, nesta terça-feira, num cabo de guerra que provocou o cancelamento da sessão. Integrantes do colegiado que são da base do governo querem a aprovação de requerimentos para a quebra de sigilos de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que a oposição é contra.

Mais de 90 solicitações foram protocoladas desde o depoimento do hacker Walter Delgatti Neto ao colegiado. A relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), é autora de pelo menos 47 quebras de sigilo, envolvendo citados pelo hacker, como a deputada Carla Zambelli (PL-SP), acusada por ele de mediar um encontro com Bolsonaro visando fraudar o sistema de urnas eletrônicas. Porém, personagens do caso da venda de joias sauditas envolvendo o casal Bolsonaro, como o advogado Frederick Wassef e o ex-ajudante de ordens Osmar Crivelatti, estão entre os alvos de requerimentos.

O estopim para a confusão envolveu Carla Zambelli. A relatora pediu a quebra do sigilo telefônico e telemático da deputada, bem como um relatório da movimentação financeira dela. A parlamentar também teve sua convocação solicitada pelos deputados Pastor Henrique Vieira (PSol-RJ), Erika Hilton (PSol-RJ) e Duarte Jr. (PSB-MA). A oposição, porém, sustenta que a convocação seja suficiente para esclarecer os pontos listados por Delgatti Neto.

"Eu sempre digo: a gente não vai investigar o crime das joias. A gente não vai investigar, por exemplo, o crime do garimpo ilegal. A gente não vai investigar o crime da grilagem, mas a gente tem que investigar se o dinheiro dessas ilegalidades, dessas ações criminosas, chegaram para o 8 de janeiro", argumentou Eliziane Gama antes do tumulto, ocorrido a portas fechadas para a imprensa. Do lado de fora, como o Correio presenciou, era possível ouvir gritos e, em determinado momento, escutou-se a relatora pedindo respeito ao deputado Marco Feliciano (PL-SP).

"Nenhum dos depoentes até agora tiveram a quebra de seus sigilos sem antes serem ouvidos", afirmou Feliciano ao Correio. "Por se tratar de uma parlamentar (Zambelli), que não foi ouvida ainda, pedi que primeiro ela fosse convocada e, após seu depoimento, em caso de dúvidas, aí, sim, a quebra."

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), integrante da comissão, admitiu que não foi possível alcançar um acordo para a reunião deliberativa desta terça-feira e, assim, a sessão foi remarcada para esta quinta-feira, antes do depoimento do militar Luis Marcos dos Reis — de acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ele movimentou R$ 3,3 milhões e repassou parte do valo para o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. "Nós consideramos isso prejudicial para a oitiva", frisou Thronicke.

Na avaliação da senadora, provas "robustas" estão "eclodindo", inclusive documentos. Por isso, acredita que a oposição esteja "perdendo totalmente a compostura". "Estamos vivendo um momento em que alguns estão ou nervosos ou com medo, porque se exaltaram de forma que nós não imaginávamos. Houve desrespeito hoje (terça-feira) nessa reunião, e tivemos que encerrar", acrescentou.