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Maya Gabeira avisa que plástico é uma ameaça de curto prazo à vida

Surfista e embaixadora da Unesco para os oceanos chama atenção para os danos que o material traz ao meio ambiente — tanto que defende aprovação de PL que regula utilização. E afirma que não há versão biodegrádável para derivados de polímero

Os plásticos chamados "de uso único" — feitos para serem usados apenas uma vez e logo descartados, como garrafas pet, canudos e sacolas de mercado — são os maiores poluidores do meio ambiente e se tornaram uma verdadeira praga nos oceanos. Por causa dos prejuízos que o produto traz à preservação dos biomas, a surfista Maya Gabeira veio a Brasília para o lançamento, hoje, da campanha "Pare o Tsunami de Plástico", da organização não-governamental Oceana. A iniciativa quer chamar a atenção para a votação, com urgência, do Projeto de Lei (PL) 2.524/22, de autoria do senador Jean Paul Prates (PT-RN), hoje presidente da Petrobras, cujo texto propõe um marco regulatório para a economia circular e sustentável do plástico.

"É urgente acabar com a produção desenfreada de plástico. Não adianta mais falar em reciclar porque a gente sabe que 9% do plástico são reciclados no mundo", lamentou Maya, em entrevista, ontem, ao CB.Poder — parceria entre Correio Braziliense e a TV Brasília.

Maya, que é embaixadora da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para o oceano, lembra que o plástico não é biodegradável — que se desfaz na natureza. Segundo ela, questões econômicas dificultam a substituição do produto, uma vez que o Brasília, por conta da produção de petróleo, é, também, um grande produtor de polímeros sintéticos — elemento para a fabricação do plástico.

"Existe uma questão de custo e, naturalmente, (existe) uma pressão econômica para isso. A gente não pode esquecer que a indústria do plástico vem da indústria petroleira, e que o plástico é um produto muito barato e muito confortável. Ele consegue isolar alimentos e não é muito usado na indústria alimentícia e de cosméticos à toa. É extremamente barato não só para indústria que o produz, mas também para indústria que é obrigada a usá-lo", explicou.

Campeã mundial de surfe em ondas gigantes, Maya é enfática ao dizer que plástico biodegradável é uma "falácia". Ela salienta que o produto, por si só, não pode ser absorvido pela natureza. A embaixadora da Unesco para os oceanos denuncia que a indústria apenas mistura esse material a outras fibras e elementos biodegradáveis para diminuir o tempo que levam para se dissolver no meio ambiente.

"A indústria nos induz a pensar que o plástico é biodegradável. No caso, há um percentual de plástico que pode ser conjugado com outras coisas biodegradáveis. Mas não dizem que percentual é esse", afirma.

Ela garante que não há outra solução a não ser "começar a investir em outros materiais e viabilizá-los economicamente, fazendo com que fiquem tão baratos quanto o plástico um dia". Maya lembra que os países subdesenvolvidos são os mais afetados pela poluição causada pelo uso ostensivo do plástico.

"Os países ricos do Hemisfério Norte são os que mais usam o plástico e são os que mais usam energia. Quem paga o maior preço do aquecimento global, da poluição, do excesso de plástico são os países do Hemisfério Sul", ressaltou.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi