As revelações desta sexta-feira (11/8) sobre operações financeiras suspeitas envolvendo Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, já estavam no radar da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de janeiro. No depoimento do militar à comissão, há exatamente um mês, a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), demonstrou já ter algum conhecimento dessa movimentação.
A parlamentar questionou Cid várias vezes sobre o tema, inclusive uso de dinheiro em espécie. O militar negava, evitava responder ou dizia que os questionamentos de Gama já estavam "dentro do escopo de que estou sendo investigado". Ele obteve habeas-corpus para permanecer em silêncio.
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Numa dessas perguntas, a relatora citou que a Polícia Federal havia encontrado no cofre de Cid 35 mil dólares (R$ 171,1 mil) e R$ 16 mil, em espécie.
"O senhor fez uma viagem aos Estados Unidos que a gente chama de bate e volta, o senhor foi aos Estados Unidos e voltou em apenas dois dias. Esse valor de 35 mil dólares em espécie, juntamente com esses R$ 16 mil em espécie, o senhor teria trazido dos Estados Unidos?", perguntou a senadora.
Cid repetiu que o assunto já era alvo de investigação e que seguia orientações de seus advogados para permanecer em silêncio.
Relatora cita 45 depósitos
Eliziane Gama lembrou que o uso de dinheiro vivo levanta suspeita e citou normas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que captou a movimentação irregular da operação de hoje. Nesse momento, a relatora cita que investigações da PF apontavam para movimentações financeiros "muito intensas a familiares de Bolsonaro".
"Nessas investigações da Polícia Federal, há, claramente, a presença de movimentações financeiras significativas de familiares e algumas delas, claramente, direcionadas por Vossa Senhoria. Por exemplo, a Polícia Federal encontra mensagens suas sobre pagamentos e depósitos de valor, em espécie, feitos a parentes do então Presidente Bolsonaro, portanto, dificultando — através do pagamento, em dinheiro vivo, de forma fracionada — a identificação de quem repassou o dinheiro."
A relatora cita a localização de 45 depósitos de Mauro Cid, no valor de R$ 2.840 para um dos familiares, que seriam pagamentos fracionados a família do ex-presidente. E questiona o militar: "Por que a utilização, de uma forma tão intensa, de dinheiro em espécie? Às vezes, até as pessoas que solicitam alguma ajuda, nas ruas, dizem: 'Eu estou aqui com o meu Pix'. Você quase não vê, realmente, o dinheiro físico, não é? Você está lá com o dinheiro virtual, mas o senhor fazia questão de utilização de dinheiro físico. Por que é que o senhor utilizava tanto dinheiro físico?"
Cid novamente esquivou-se e repetiu que não iria responder.
Na sequência, Gama se refere a um depósito de R$ 400 mil que Cid teria recebido justamente em março do ano passado, quando ocorreu parte dos episódios revelados hoje pela investigação da PF.
"O senhor teria recebido um depósito da ordem de R$ 400 mil. Esse recebimento, no valor de R$ 400 mil, em março do ano passado, foi um valor de transferência ou foi um valor de depósito em dinheiro físico?"
Ele não respondeu.