Atos antidemocráticos

Tenente-coronel é exonerado do GSI por se ligar a golpistas

Militar integrava a equipe responsável pela segurança de Lula e também fazia parte de grupo no WhatsApp com fardados que pregavam a ruptura institucional e promoviam ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF

Atos de depredação de 8 de janeiro -  (crédito: AFP)
Atos de depredação de 8 de janeiro - (crédito: AFP)
Ândrea Malcher
postado em 26/08/2023 03:55

Perícia realizada pela Polícia Federal (PF) no celular do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, constatou que o tenente-coronel André Luís Cruz Correia, que integrava o Gabinete de Segurança Institucional — organismo diretamente envolvido na segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, participava de um grupo no WhatsApp no qual se defendia a aplicação de um golpe de Estado e se atacava o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O militar foi exonerado da função no GSI.

Entretanto, apesar de o tenente-coronel ter sido destituído da função que ocupava no Gabinete, ele já estava nomeado para outro cargo no Comando do Exército. A demissão de Correia do GSI, como divulgou o site G1 e confirmou o Correio, foi publicada no Diário Oficial da União em 10 de agosto.

Mas, dois dias antes, em 8 de agosto, ele já estava designado para a função de oficial de gabinete do comandante do Exército, Tomás Paiva — como atesta o DOU. A assessoria da Força informou que a nomeação do tenente-coronel ocorreu devido a uma "permuta de servidores", já que o GSI havia solicitado um militar que atuava na Comunicação do Exército.

Correia acompanhou Lula para a reunião dos países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), na Bélgica. A última viagem na segurança do presidente foi para Puerto Iguazu, na Argentina, ambas em julho.

O militar teria sido transferido da Bahia para Brasília, após pedir ajuda a Mauro Cid. A nomeação de Correia ocorreu em março. O ministro do GSI, Marcos Antonio Amaro dos Santos, negou saber da constatação da PF e não deu detalhes da exoneração. Ele afirmou apenas que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não teria poder para atender a solicitação feita por Correia.

Documentos enviados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos de 8 de janeiro já haviam divulgado que o GSI enviou à Mauro Cid informações sobre a segurança das viagens de Lula. O tenente-coronel recebeu, entre 6 e 13 de março, documentos classificados como "urgentíssimos", detalhando agendas em Xangai (China), Brasília, Foz do Iguaçu e Boa Vista. O período coincide com a época em que Bolsonaro e Cid estavam nos Estados Unidos.

O episódio envolvendo Correia reaquece o conflito entre a PF e o GSI pelo comando da segurança presidencial. No início do ano, a responsabilidade foi passada às mãos dos agentes federais, mas retornou ao Gabinete em junho em formato "híbrido" — com a participação de civis, policiais e militares.

A participação de Correia no grupo de militares que pregavam o golpe de Estado foi confirmada pela PF, que explicou que o tenente-coronel não é investigado no inquérito que apura atos antidemocráticos. Isso, porém, se dará se for comprovada uma "efetiva participação" do militar no compartilhamento de mensagens com teor antidemocrático.

Dia do "Patriota"

Porto Alegre celebrará, a partir do próximo ano, o Dia do Patriota, em 8 de janeiro — data em que radicais bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, numa tentativa de golpe de Estado. O presidente da Câmara Municipal da capital gaúcha, vereador Hamilton Sossmeier (PTB), promulgou um projeto de lei de autoria do vereador Alexandre Bobadra (PL) — que foi cassado —, uma vez que o prefeito Sebastião Melo (MDB) não sancionou nem vetou a lei nos 15 dias de prazo que tinha para fazê-lo.

O governador Eduardo Leite (PSDB) não se manifestou, apesar de ter publicado nas redes sociais, em 8 de janeiro, que "as cenas criminosas que vemos em Brasília, com barbárie e terrorismo no Congresso, STF e Planalto são absolutamente inaceitáveis em nossa democracia".

 

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