A operação da Polícia Federal que mirou a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e prendeu vários oficiais na manhã desta sexta-feira (18/8), ocorreu após o Supremo Tribunal Federal (STF) atender a uma requisição da Procuradoria-Geral da República. Foram apresentados ao STF um provas, por meio de um relatório detalhado, obtidas em uma investigação de oito meses sobre a invasão dos prédios público em 8 de janeiro. Mensagens obtidas mostram que havia uma omissão planejada pela PMDF não apenas nos atos de janeiro, mas também no ataque à sede da Polícia Federal, em 12 de dezembro.
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Segundo o relatório da PGR, a PMDF não prestou socorro "eficiente" à Polícia Federal "que teve que repelir a invasão com meios próprios". Em mensagens captadas pelo órgão em um grupo com o major Flávio Silvestre de Alencar, um oficial encaminha uma matéria da CNN, de entrevista do Senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP) em que o parlamentar diz ter ficado “espantado” com o “excesso de tolerância da PMDF” diante da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em Brasília. Em resposta, Flávio mostra que já havia uma intenção de permitir uma invasão ao Congresso Nacional. "Na primeira manifestação, é só deixar invadir o congresso", diz.
No 8 de janeiro, Flávio foi designado como o oficial encarregado pelo comando das tropas em campo. Para a PGR, ele se omitiu a agir contra os golpistas.
Já haviam se omitido antes em 12 de dezembro
O relatório mostra ainda a omissão de oficiais da PMDF durante os atos de 12 de dezembro de 2022, em que vários indivíduos colocaram fogo e destruíram vários bens públicos e privados em frente a sede da Polícia Federal (PF). Ninguém envolvido foi preso naquela noite, o que chamou a atenção da PGR.
A temática foi tratada novamente em grupos de mensagem, mas entre outros dois PMs investigados: coronel Marcelo Casimiro e coronel Fábio Augusto Vieira, ambos presos nesta sexta (18), conversaram sobre uma matéria do portal O Antagonista, que tratava da "inércia da PMDF" nos atos.
Em resposta a postagem, Fábio afirmou que foi a “inércia que restabeleceu a ordem e salvou vidas" enquanto Casimiro argumentou que "fazer prisões não é fácil". "Com certeza... fazer prisões não é fácil nessa hora. Vários fatores contribuem para não ter prisão", argumentou Casimiro em mensagens.
Entretanto, a PGR avalia que as mensagens enviadas por Casimiro e pelo coronel Jorge Eduardo Naime, que já estava preso preventivamente, para Fábio, demonstram que a PMDF teve, de fato, claras oportunidades de efetuar a prisão em flagrante dos autores do dia 12 de dezembro.
Uma mensagem afirmava que sete ônibus deixavam o QG do Exército em direção a PF. Três já haviam saído no momento em que a mensagem foi enviada.
"Aprox. 7 ônibus saindo QGex em direção à PF. Desses 3 já saíram. Com indígenas e não indígenas. Além de algumas camionetes", afirma a mensagem.
Após os atos, a Agência Departamental de Inteligência do Departamento de Operações (DOP), que era chefiada por Jorge, produziu um informe, em que afirma que a PMDF dialogou com os insurgentes nas imediações da sede da PF e "permitiu que estes retornassem aos ônibus e, depois, ao acampamento em
frente ao QG do Exército".
Assim, a PGR constatou que Fábio, Jorge e Casimiro tinham conhecimento de que o acampamento no QG do Exército "concentrava extremistas, que ali se organizavam para a prática de atos antidemocráticos", que tinham por objetivo manter Jair Bolsonaro no poder, mantendo a expectativa de um golpe de Estado.
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