CPI DO MST

Stédile afirma que agro progressista apoia Lula

Líder do Movimento dos Sem Terra defende o governo, garante que o empresariado do campo está rachado e que somente os setores mais atrasados tecnicamente é que fazem oposição sistemática ao presidente

Segundo Stédile, há um setor do agro que utiliza técnicas ultrapassadas -  (crédito: Lula Marques/Agência Brasil     )
Segundo Stédile, há um setor do agro que utiliza técnicas ultrapassadas - (crédito: Lula Marques/Agência Brasil )
Evandro Éboli
postado em 16/08/2023 03:55 / atualizado em 16/08/2023 06:37

A esperada presença de João Pedro Stédile, principal liderança do MST, ontem, na CPI que investiga ações do movimento, voltou a demarcar posições na comissão. Sobretudo porque, conforme ele avaliou, o agronegócio está dividido sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Stédile, quem faz oposição ao governo e se mantém fechado com o ex-presidente Jair Bolsonaro é a parte do setor que considera "atrasada".

Questionado pelo relator Ricardo Salles (PL-SP), Stédile afirmou que há dois tipos de agronegócio no país: um que está percebendo que a aplicação de agrotóxico e desmatamento não funciona mais e outro que segue fazendo uso dessa prática. E afirmou que a primeira metade está ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O agronegócio está dividido. A metade que tem juízo apoiou o Lula, a outra parcela é a Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), que só pensa em ganhar dinheiro. Parte do agronegócio tem consciência dos limites e está migrando para outra agricultura, a chamada agora de 'práticas regenerativas', para substituir pesticidas por defensivo agrícola agroecológico. Parcela do agronegócio ainda vai para o céu", alfinetou.

Provocado novamente por Salles sobre depoimentos de assentados que denunciaram à CPI corrupção em algumas áreas controladas pelo MST, Stédile disse desconhecer os casos. "Há 500 mil famílias assentadas no Brasil. Se em 1% desses assentamentos há desvios, vocês teriam que ouvir, aqui, 5 mil famílias. Ou seja, não se pode generalizar esse tipo de coisa", justificou.

Sobre a redução de invasões de terra durante o governo Bolsonaro, Stédile afirmou que foram duas as razões: a pandemia e a política armamentista no campo promovida pelo ex-presidente. "Ninguém vai andar em grupo quando se tem um governo fascista e que promove a violência. Ninguém seria louco de fazer uma ação quando se corre risco de vida", observou.

Ataques

Como se tornou frequente nas CPIs em curso no Congresso, a sessão de ontem do colegiado novamente foi palco de bate-bocas e provocações entre governistas e bolsonaristas. Stédile defendeu a reforma agrária e as invasões de terra, tratadas sempre por ele como ocupações, para irritação dos apoiadores do ex-presidente.

Deputados da oposição o atacaram, repetindo que ele liderava um "movimento criminoso e terrorista". Em apoio a Stédile, parlamentares da esquerda usavam bonés do MST.

Um dos momentos mais tensos foi protagonizado pelos deputados Coronel Chrisóstomo (PL-RJ) e Tarcísio Motta (PSol-RJ). Na fala da deputada Talíria Petrone (PSol-RJ), o bolsonarista acusou a esquerda pelo assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018. Motta se irritou.

"Repita, fale ao microfone. No fundo, são uns covardes", desafiou. O bolsonarista, porém, repetiu. O parlamentar do PSol anunciou, então, que representaria contra ele no Conselho de Ética da Casa.

Outro momento de tumulto foi provocado pelo deputado bolsonarista Éder Mauro (PL-PA). Disse que o líder do MST foi moderado o tempo todo e que preferiu o estilo "Stedile paz e amor". Mas não resistiu e gerou discussão ao chamá-lo de "vagabundo".

 

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