Uma crise de sincericídio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, provocou a prorrogação, mais uma vez, da busca por soluções para a votação do novo marco fiscal na Câmara. Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, divulgada nesta segunda-feira, Haddad se queixou da pressão da Câmara sobre o Senado e o Executivo.
O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), não gostou do que ouviu e cancelou a reunião que haveria nesta segunda-feira, à noite, entre o colégio de líderes e técnicos do Ministério da Fazenda para tratar das mudanças feitas no texto na votação do Senado.
O relator do arcabouço fiscal, deputado Claudio Cajado (PP-BA), que estava decidido a retirar essas alterações — mantendo a proposta como tinha sido aprovada na Câmara —, conta com o parecer da Fazenda para fazer valer seu ponto de vista.
O incidente ocorreu três dias após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repreender simpatizantes que vaiaram opositores seus, convidados para o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, entre os quais estava Lira. Na ocasião, o chefe do Executivo afirmou que o governo dependia mais do Legislativo do que o contrário. "O Lira precisa menos de mim do que eu dele", repetiu o petista, nesta segunda-feira, no podcast Conversa com o Presidente.
A votação do marco fiscal é fundamental para que o governo possa encaminhar ao Congresso o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024. O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Danilo Forte (União-CE) também aguarda as novas regras relativas aos limites de gastos públicos para elaborar seu parecer.
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Humilhar
Após afirmar que o processo de negociação com o Parlamento não é fácil, Haddad se queixou do excesso de poder dos deputados. "A Câmara está com um poder muito grande e não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas, de fato, está com um poder que eu nunca vi na minha vida", frisou, no podcast.
Ante a repercussão da fala do ministro na imprensa, Lira cancelou a reunião. Haddad, então, telefonou para o presidente da Câmara e explicou que não se referia a essa legislatura, mas à transformação do governo de coalizão, desde a última vez em que o PT esteve no poder. Lira, por sua vez, pediu que o titular da Fazenda fizesse o mesmo esclarecimento publicamente, o que foi feito.
Logo após falar com o deputado, Haddad desceu até a portaria do ministério para dizer que foi mal interpretado. "Fiz uma reflexão sobre o fim do chamado presidencialismo de coalizão. Defendi, durante essa entrevista, que a relação pudesse ser mais harmônica para produzir melhores resultados", comentou.
Haddad teceu elogios à relação do governo com a atual legislatura e mencionou que tem creditado ao Congresso as vitórias que o país está alcançando no campo econômico. "Tudo que tenho feito é dividir as conquistas do primeiro semestre com Legislativo e Judiciário. Longe de mim querer criticar a atual legislatura", destacou.
Mesmo com a reparação feita pelo ministro, Lira foi às redes sociais defender a sua atuação. "É equivocado pressupor que a formação de consensos em temáticas sensíveis revela a concentração de poder na figura de quem quer que seja", postou. "A formação de maioria política é feita com credibilidade e diálogo permanente com os líderes partidários e os integrantes da Casa."
Lira acrescentou: "Essa missão é do governo, e não do presidente da Câmara, que, ainda assim, tem se empenhado para que ela aconteça. Manifestações enviesadas e descontextualizadas não contribuem no processo de diálogo e construção de pontes tão necessários para que o país avance", concluiu.
A reunião entre o colégio de líderes e técnicos da Fazenda foi reagendada para esta terça-feira, às 12h30.
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