As revelações das 105 páginas do despacho do ministro Alexandre de Moraes autorizando a operação da Polícia Federal na última sexta-feira, e suas consequências, vão continuar no encalço do ex-presidente Jair Bolsonaro, de seu entorno político e também da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A investigação levanta a possibilidade da existência de uma organização criminosa na venda, nos Estados Unidos, de joias presenteadas ao governo, mas que podem ter sido destinadas ao patrimônio privado do ex-presidente.
As expectativas nesta semana se voltam para outra provável decisão de Moraes, que será a autorização para os depoimentos de Bolsonaro e Michelle e também de quebra de sigilos fical e bancário do casal na investigação. No Supremo Tribunal Federal (STF) a percepção é que dificilmente o ministro relator do inquérito das milícias digitais deixe de atender esse pedido da PF.
O caso vai respingar na CPMI do 8 de Janeiro. A base governista anunciou que deseja levar o assunto para o centro da comissão. A relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse que é preciso apurar se há relação com o dinheiro ilegal arrecadado com venda de peças luxuosas presenteadas ao governo com o financiamentos dos atos dos vândalos bolsonaristas nos prédios das sedes dos Três Poderes.
O presidente da CPMI, Arthur Maia (União-BA), voltou a divergir da relatora e pensa diferente. Para ele, seria misturar as coisas. Os governistas vão insistir. O deputado Rogério Correia (PT-MG) anunciou que quer votar o pedido de retenção dos passaportes de Bolsonaro e Michelle. O ex-presidente se manifestou ontem pela primeira vez, desde o estouro do escândalo.
As revelações da Polícia Federal na Operação Lucas silenciaram os aliados de Jair Bolsonaro, que não se manifestaram sobre o escândalo. Dos 23 senadores e deputados, entre titulares e suplentes, da CPMI dos atos golpistas, apenas Flávio Bolsonaro (PL-RJ) se pronunciou, nas suas redes. "Mais uma vez a tentativa de assassinar a reputação de Bolsonaro salta aos olhos de toda a nação brasileira e será em vão", disse. Seu irmão e deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também integrante da CPMI, nada comentou sobre o caso.
"Total armação"
O advogado Frederick Wassef, que atua na defesa da família Bolsonaro e que teve seu nome no citado nas investigações da operação, afirmou que está sofrendo uma campanha de "fake news e mentiras de todos os tipos". Ele afirmou ainda ser vítima de uma "total armação", de uma calúnia.
Segundo apuração da PF, Wassef foi destacado pelo grupo para ir aos Estados Unidos, em março deste ano, recomprar o relógio Rolex Day-Date 18946, à base de ouro branco e vendido ilegalmente naquele país pelo tenente-coronel Mauro Cid. O advogado nega envolvimento no caso.
"Jamais soube da existência de joias ou quaisquer outros presentes recebidos. Nunca vendi nenhuma joia, ofereci ou tive posse. Nunca participei de nenhuma tratativa, e nem auxiliei nenhuma venda, nem de forma direta ou indireta. Jamais participei ou ajudei de qualquer forma qualquer pessoa a realizar nenhuma negociação ou venda", garante Wassef, em nota divulgada na madrugada deste domingo. Wassef, porém, não desmente viagem aos Estados Unidos nem se manifesta claramente que não recomprou o Rolex.
Advogado abandona
O advogado Bernardo Fenelon, que atuava na defesa Mauro Cid, deixou de representá-lo e o motivo seria a "quebra de confiança" no cliente, que teria omitido informações sobre o caso. A desistência de Fenelon foi noticiada pelo portal G1.
Fenelon foi quem acompanhou o militar durante seu depoimento na CPMI, em 11 julho, e o orientou a ficar calado o tempo inteiro, utilizando o habeas-corpus que obteve no STF. Mas Cid chegou a ser repreendido pelo presidente da comissão. O HC concedido pela ministra Cármen Lúcia não o isentava de responder perguntas que não o incriminassem, o que não ocorreu.
A operação da PF complicou a situação de Cid, flagrado num áudio onde ele fala numa entrega de US$ 25 mil (R$ 122,7 mil) por seu pai, o general Lourena Cid, ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
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