VENDA ILEGAL DE PRESENTES

O que se sabe sobre a investigação que mira ex-aliados de Bolsonaro

A operação da PF investiga pessoas ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, e Frederick Wassef, ex-advogado do político

Renato Souza
Camilla Germano
Francisco Artur
postado em 11/08/2023 16:57 / atualizado em 11/08/2023 22:58
As joias oficiais já haviam sido denunciadas pela falta de registro ao entrarem no país após viagens oficiais de Bolsonaro -  (crédito:  Reprodução)
As joias oficiais já haviam sido denunciadas pela falta de registro ao entrarem no país após viagens oficiais de Bolsonaro - (crédito: Reprodução)

A Polícia Federal (PF) cumpriu, nesta sexta-feira (11/8), mandados de busca e apreensão — em Brasília (DF), São Paulo (SP) e Niterói (RJ) — contra pessoas ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro em operação que investiga possível venda ilegal de presentes recebidos em viagens oficiais do governo para benefício próprio. 

A mando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), os agentes cumpriam mais uma etapa do inquérito que apura ações de uma suposta milícia digital contra a democracia.

A operação investiga se pessoas aliadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cometeram condutas criminosas durante a gestão do ex-chefe do Executivo. 

Entenda, ponto a ponto, o que se sabe, até o momento, sobre a investigação que motivou a operação: 

Operação Lucas 12:2 da Polícia Federal

  • A ação que investiga possível venda ilegal de presentes oficiais foi batizada pela PF como Operação Lucas 12.2. O nome é uma alusão bíblica ao versículo do livro que diz: "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido"; 
  • Os mandados, cumpridos pela PF, estavam ligados a residências de aliados de Bolsonaro, como Mauro César Cid e Frederik Wassef
  • Quatro mandados foram cumpridos: dois em Brasília, um em São Paulo e outro em Niterói, no Rio de Janeiro. 

Alvos da operação são suspeitos de utilizar o Estado para desviar bens 

  • A PF apura a tentativa de venda ilegal de presentes recebidos pelo governo federal em encontros oficiais, entre eles o rolex e as joias sauditas, que já haviam sido alvo de denúncias na imprensa; 
  • Em nota, a Polícia Federal afirmou que os investigados são "suspeitos de utilizar a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais"; 
  • As informações preliminares apontam, ainda, que os valores obtidos das vendas desses presentes foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados; 
  • Portanto, a corporação afirma que os suspeitos estão sendo investigados pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. 

Ex-advogado e ex-ministro de Bolsonaro orientou a compra de relógio saudita

  • Esse mesmo relógio fazia parte de um conjunto de joias e foi recebido por Bolsonaro em uma viagem à Arábia Saudita e vendido posteriormente nos Estados Unidos;
  • De acordo com fontes ligadas à investigação, Wajngarten deu a orientação de compra do objeto após o Tribunal de Contas da União (TCU) determinar o acautelamento do relógio por parte de Bolsonaro;
  • Em conversa com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Wajngarten teria demonstrado preocupação na eventual possibilidade de que o TCU determinasse a entrega do relógio, que já estava vendido;
  • A compra do relógio, para posterior entrega ao TCU, ficou a cargo de Frederick Wassef, ex-advogado de Bolsonaro;
  • Procurado pela reportagem, Fabio Wajngarten afirmou que "desconhece por completo o tema".

Pai de Cid aparece em reflexo de foto tirada para negociar escultura

  • De acordo com a PF, Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, tirou uma foto da caixa com esculturas recebidas para enviar a uma joalheria e avaliar o preço que poderia cobrar;
  • O objeto também foi um presente recebido pelo Governo Federal e que seria revendido pelo grupo;
  • A foto comprova a participação de Mauro no esquema;
  • As investigações apontam ainda que as negociações para venda dos objetos teria começado em janeiro de 2023, poucos dias depois de Bolsonaro chegar aos Estados Unidos — para onde foi após perder as eleições;
  • Em um dos trechos do relatório da PF enviado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro é citado como sendo o destino de parte do dinheiro obtido pela venda dos objetos.

Mauro Cid citou US$ 25 mil para Bolsonaro, em áudio enviado a assessor Marcelo Câmara

  • Em áudio obtido pela PF, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid cita US$ 25 mil que, possivelmente, seriam endereçados a Bolsonaro. Na mensagem, endereçada a Marcelo Câmara, assessor especial do ex-presidente, Cid demonstra preferência em entregar essa quantia em dinheiro vivo;
  • O ex-ajudante do então presidente, conforme a polícia, também tratou da venda de estátuas de palmeira e um barco folheados a ouro. Esses objetos foram recebidos pela comitiva brasileira durante visita oficial ao Reino do Bahrein, em 2019;
  • O áudio obtido pela PF também aponta que Mauro Cid fala de negociações para organizar um leilão de um dos kits dados pela Arábia Saudita ao Brasil. O conjunto em questão era um relógio e joias masculinas.

Presentes oficiais estavam em avião que levou Bolsonaro aos EUA no fim de dezembro

  • Segundo a PF, presentes oficiais foram embarcados na mala do ex-presidente Bolsonaro, no avião que o levou para os EUA em dezembro do ano passado;
  • As investigações apontam que dois assessores do então presidente teriam ajudado a despachar os objetos. São eles: Osmar Crivelatti e Marcelo Câmara; 
  • No avião, conforme os investigadores, foram levados duas esculturas de barco e palmeira, recebidas em novembro de 2021 na viagem de Bolsonaro ao Bahrein e um dos conjuntos de joias da Chopard recebidas por Bolsonaro como presente oficial da Arábia Saudita;
  • A Polícia Federal, no entanto, não confirma se o ex-presidente sabia que os presentes foram despachados no avião que o levou para Miami.

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