Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres chamou a minuta golpista, encontrada em sua casa pela Polícia Federal (PF), de um documento "fantasioso", uma "aberração" e sem "validade jurídica". Ele também eximiu-se de qualquer responsabilidade pelas invasões e vandalismos das sedes dos Três Poderes e disse ter plena confiança nas urnas eletrônicas — desclassificada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em algumas das lives de que Torres participou.
Nas considerações que fez, lembrou que "a polícia encontrou um texto apócrifo, sem data, uma fantasiosa minuta, que vai para coleção de absurdos que constantemente chegam aos detentores de cargos públicos. Vários documentos vinham de diversas fontes para que fossem submetidos ao ministro. Em razão da sobrecarga de trabalho, eu normalmente levava pasta de documentos para casa".
Ao afirmar não saber de quem é a autoria do texto, alguns dos parlamentares da base governista que integram a CPMI acharam a versão pouco crível. "Este papel não foi para o lixo por mero descuido. Não sei quem entregou este documento apócrifo e desconheço as circunstâncias em que foi produzido. Sequer cogitei encaminhar ou mostrar para alguém", garantiu. O texto encontrado na casa de Torres detalhava um plano para reverter o resultado da eleição, que definiu Luiz Inácio Lula da Silva como presidente da República.
De tornozeleira
À CPMI, o ex-ministro — que ficou preso quatro meses e apresentou-se para depor vestindo uma tornozeleira eletrônica sobre a meia — assegurou que não colocou em dúvida a derrota de Bolsonaro: "Nunca questionei o resultado das eleições. Fui o primeiro ministro a receber a equipe de transição, no meu caso Flávio Dino, que seria meu sucessor", assegurou.
Já na condição de secretário de Segurança do DF, Torres justificou a ida aos Estados Unidos — dias antes da invasão dos bolsonaristas às sedes dos Três Poderes — em função de não ter recebido qualquer alerta dos setores de inteligência para o risco de ataques. "Acompanhei a distância, fiquei muito preocupado quando vi o vandalismo sendo praticado. Cheguei a passar mensagem do WhatsApp para o secretário em exercício, apelando para que impedisse que os manifestantes se aproximassem do Supremo (Tribunal Federal), uma vez que o Planalto e o Congresso já estavam invadidos", assegurou.
Torres embarcou para a Disney com a família em 6 de janeiro. Reafirmou que a viagem estava programada há anos e que era "a realização de um sonho". Destacou que, por conta das invasões, buscou retornar ao Brasil "o mais breve possível".
"Desde que fui preso, nunca me neguei a cooperar com a Justiça. Entreguei as senhas do meu celular, da nuvem, do e-mail. Tomei a iniciativa de autorizar a quebra do meu sigilo telemático, fiscal, bancário e telefônico. Continuo sob investigação e cumprindo fielmente as medidas cautelares determinadas", afirmou.
Sobre os bloqueios às estradas na Bahia, no dia do segundo turno da eleição, Torres afirmou que a ida ao estado, dias antes, nada tem a ver com a organização das barricadas para prejudicar o tráfego de eleitores. A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse que pedirá uma acareação entre o ex-ministro e o superintendente da PF na Bahia, Leandro Almada — que teria recebido a ordem de Torres para reforçar o policiamento nas ruas, em 30 de outubro.
Como vem se repetindo nas CPIs em curso no Congresso, o depoimento de Torres foi uma vez mais palco de embate entre governistas e bolsonaristas. O deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) garantiu que o ex-ministro "não é bandido" apenas por olhá-lo. O parlamentar foi o pivô de uma confusão com a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), pois teria batido na mesa irritado com a colega. Feliciano foi repreendido pelo senador Rogério Correia (PT-SE), Duarte Júnior (PSB-MA) e por Eliziane Gama.
O deputado federal Abilio Brunini (PL-MT), que tem se notabilizado pelas provocações aos colegas, acusou Carvalho de cuspir em Feliciano. O presidente da CPMI, Arthur Maia (União-BA), pediu análise da gravação do episódio.
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