A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura os atos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ouviu três ex-assentados do movimentos, na tarde desta terça-feira (8/8). O segundo depoimento foi de Vanuza dos Santos de Souza, ex-assentada do Acampamento São João, que afirmou ter sido expulsa da própria casa em um assentamento e acusa o Valmir Assunção (PT-BA) de ser o mandante da ação.
Desde o início do depoimento, Vanuza demonstrou emoção ao falar. Chorando, ela gritou que sentia “vergonha de ser brasileira” e afirmou diversas vezes que não gostaria de estar ali, mas que estava pela “honestidade” e que não queria “difamar o movimento”. Ele ainda contou que por anos votava no Partido dos Trabalhadores (PT) por acreditar, não por pedido do MST.
“Anos e anos fazendo campanha para o Valmir Assunção” diz Vanuza. De acordo com ela, o deputado teria entregado o lote a ela no assentamento há 16 anos. Chorando, a depoente conta que foi expulsa de casa durante a madrugada e mostra vídeo de uma casa, que seria dela, com todos móveis, janelas e até telhado quebrados.
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Vanuza também mostrou alguns vídeos dela falando, no dia em que teria sido expulsa, e da casa bagunçada com coisas quebradas, com imagens sem áudio.
Logo após o depoimento, o membro do MST Cássio Souza Santa, filho de Vanuza, publicou um vídeo desmentindo a versão dita pela mãe na CPI. "Infelizmente, minha mãe foi cooptada", disse.
"Passamos por anos de medo"
— Brasil de Fato (@brasildefato) August 8, 2023
Morador de um assentamento do MST no sul da Bahia, Cássio Souza Santana afirmou que Liva do Rosa, que prestou depoimento na CPI do MST hoje, fez ataques violentos ao assentamento.
Cássio é filho de Vanuza Souza, que também esteve na CPI nesta tarde. pic.twitter.com/FrMqSeQsPx
Pelo X, o deputado Valmir Assunção negou as acusações de Vanuza e disse que a CPI é "um palanque bolsonarista que não ajuda em nada a reforma agrária". Confira o vídeo:
CPI DO MST É TEATRO DE HORRORES
Mais uma sessão da #CPIdoMST, que a cada dia varia na estratégia mas mantém seu objetivo de criminalizar o @MST_Oficial e a luta por reforma agrária: "Um palanque bolsonarista que não ajuda em nada a reforma agrária".#TôComMST #Bahia #CPIdoMST pic.twitter.com/u0y4YxcBu8— Valmir Assunção (@DepValmir) August 8, 2023
Os parlamentares da base governista acusaram Ricardo Salles (PL-SP) de atuar como se fosse advogado da depoente. A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) protagonizou momento de “defesa” da mulher. Acusando deputadas como Sâmia Bomfim (Psol-SP) e Talíria Petrone (Psol-RJ), defensoras dos movimentos sociais, de se “vitimizarem” e não “respeitarem” a depoente. De longe foi possível ver que as duas deputadas do Psol conversaram sobre abaixar o tom para não seguir adiante com o desentendimento.
Mais depoimentos
Além de Vanuza, também prestaram depoimento os ex-militantesElivaldo da Silva Costa e Benevaldo da Silva Gomes, ex-participante do Acampamento Egídio. Benevaldo contou que foi convidado a participar do movimento e que ficou 5 anos no acampamento e 7 meses no lote que lhe foi dado. No entanto, ele recebeu ordem para desocupar o local em três dias. De acordo com o depoente, o movimento não teria dito o motivo. Ele reforçou diversas vezes ser “trabalhador e honesto”.
Os três depoentes acusam o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA), que na época dos relatos era governador da Bahia. Eles afirmam terem pedido auxílio ao político, mas dizem ter sido ignorados. Após ter sido convocado por votação dos parlamentares, o ministro irá prestar declarações à CPI do MST nesta quarta-feira (9/8).
MST se pronuncia sobre ações atribuídas ao movimento na CPI
Após o término da CPI, o MST emitiu uma nota rebatendo todas acusações feitas ao movimento durante a sessão desta terça-feira. Leia abaixo trechos:
"Em pauta, uma série de acusações infundadas que, além de evidenciarem o ataque sistemático à luta pela terra naquela Comissão, também trazem à tona a articulação do bolsonarismo em áreas rurais.
A principal figura usada para atacar a luta pela terra foi Elivaldo da Silva Costa, conhecido como Liva do Rosa do Prado. Liva é militante bolsonarista e foi candidato a deputado estadual nas últimas eleições apoiando o ex-presidente Bolsonaro. Morando no assentamento Rosa do Prado, conquistado a partir da luta do MST, Liva é parte de um grupo que, desde 2020, utiliza de métodos violentos para ameaçar e aterrorizar famílias da região.
Tal grupo, durante a gestão Bolsonaro, valia-se da promessa de titulação dos lotes nos assentamentos para cooptar famílias e tensionar a relação delas com o MST. No entanto, em todo o estado da Bahia, a gestão Bolsonaro entregou somente 400 títulos definitivos.
Ao longo da tarde, diversos ataques ao MST e à luta pela terra foram proferidos: ameaças de morte, extorsão, lesão corporal, etc. No entanto, em nenhum deles foi apresentado algum tipo de comprovação dos fatos e das autorias. Nenhum boletim de ocorrência, inquérito ou processo criminal foi entregue à Comissão.
Contra os militantes do MST atacados, não corre nenhum inquérito ou processo criminal. Inclusive, estes já ingressaram com denúncia junto à Polícia Civil da Bahia pelos crimes de calúnia e difamação praticados durante a sessão. Os ataques de invasão à domicílio apresentados na sessão desta terça-feira foram denunciados à época pelo próprio Movimento Sem Terra, o qual exigiu investigação e elucidação dos crimes praticados.
O MST reafirma seu compromisso na luta de quase 40 anos pela terra e pela Reforma Agrária. É a luta realizada pelas famílias Sem Terra em todo país, que garantiram o assentamento de mais de 450 mil famílias em 24 estados.
A organização do MST na Bahia permitiu o assentamento de 13 mil famílias, em 168 assentamentos, presentes em 121 municípios. Estas conquistas sintetizadas em números permitem hoje a organização de 15 cadeias produtivas principais, entre elas, arroz, café, frutas, cacau, leite e mandioca. Na pandemia, as famílias Sem Terra do estado doaram 342 toneladas de alimentos e mais de mil litros de leite à população baiana mais carente.
[...]
O MST lamenta o baixo nível e a falta de legitimidade desta CPI, que é usada por setores do agronegócio e da extrema direita para atacar a legitimidade da luta pela terra e a moral das famílias Sem Terra. Usar a Comissão como palco para agitar sua base social e deslegitimar a luta pela terra, na tentativa de encontrar um caminho para a criminalização da Reforma Agrária é um desserviço à sociedade brasileira".
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