Ataque às instituições

Zambelli e hacker são investigados por invasão aos sistemas do CNJ

Polícia apura suposto envolvimento da deputada na invasão da plataforma do Conselho Nacional de Justiça. Delgatti Neto é preso

Renato Souza
Camilla Germano
postado em 03/08/2023 03:55
A deputada Carla Zambelli admitiu ter contratado os serviços do hacker, mas para trabalhos do seu site pessoal -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
A deputada Carla Zambelli admitiu ter contratado os serviços do hacker, mas para trabalhos do seu site pessoal - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

A deputada Carla Zambelli (PL-SP) foi alvo, nesta quarta-feira, de ação da Polícia Federal para cumprir mandados de busca e apreensão em quatro endereços ligados à parlamentar. Ela é suspeita de envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A mesma medida, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levou para a cadeia o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por invadir os celulares do então juiz Sergio Moro, hoje senador pelo União-PR, e de procuradores da Lava-Jato.

De acordo com a PF, a operação, chamada 3FA, tem como objetivo esclarecer a invasão dos sistemas do CNJ e a inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).

Foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva no estado de São Paulo e três mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, além de análise do material apreendido.

Ainda segundo a PF, os crimes apurados ocorreram entre 4 e 6 de janeiro deste ano, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso contra Moraes.

Em julho, Delgatti Neto disse, em depoimento à PF, que Zambelli pediu para que ele invadisse as urnas eletrônicas ou a conta de e-mail e telefone de Moraes.

Em um dos trechos do depoimento, Delgatti Neto também afirmou que se encontrou com o então presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Ele declarou que ouviu do, à época, chefe do Executivo se poderia invadir a urna eletrônica. A solicitação, segundo o hacker, não avançou, pois, para acessar os equipamentos eletrônicos, ele teria de ir à sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já que as urnas de votação não são conectadas à internet.

Quebra de sigilo

Além das ações de busca e apreensão e da prisão, Moraes determinou a quebra de sigilo bancário de Zambelli e Delgatti Neto. A decisão também atinge os assessores da deputada Renan Cesar Silva Goulart e Jean Hernani Guimarães e a empresa do hacker, a Delgatti Desenvolvimento de Sistemas.

Moraes ainda ressaltou que as "instituições financeiras envolvidas encaminhem os dados bancários via rede mundial de computadores".

O ministro ordenou também a apreensão de celulares, tablets e computadores, bem como armas, munições e quantias acima de R$ 10 mil, eventualmente encontradas nos endereços e veículos ligados à parlamentar.

Na decisão, o magistrado estabelece o afastamento do sigilo bancário de "todos os bens, direitos e valores mantidos em instituições financeiras, no período de 01/06/2022 a 01/06/2023, pelas pessoas físicas e jurídicas relacionadas a seguir, diretamente ou por seus representantes legais, responsáveis ou procuradores, de forma individualizada ou em conjunto com outras pessoas".

Pelo Twitter, o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que os mandados judiciais são relativos a invasões ou tentativas de invasões de sistemas informatizados do Poder Judiciário da União, no contexto dos ataques às instituições.

Bolsonaro não havia se pronunciado sobre o caso até o fechamento desta edição. 


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