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Centrão no governo Lula é parte do jogo político, dizem analistas

Entre a governabilidade e a coalizão que emergiu da campanha eleitoral há uma grande distância. Apesar de a sobrevivência ser o motor a empurrar tais mudanças, a reforma ministerial estava contratada lá atrás

As mudanças que o presidente Lula deve promover nos próximos dias não surpreende os analistas políticos. Todos lembram que entre as eleições e a gestão de um governo há uma imensa distância. E isso não necessariamente, na visão deles, representa "estelionato eleitoral". Apesar de a sobrevivência política ser o motor a empurrar tais mudanças, esse ajuste já estava contratado lá atrás, na formatação do ministério.

O sociólogo e analista político Pedro Célio compara o atual mandato de Lula com os anteriores. Ele lembra que "o bloco político negociado em 2022 nasceu como frente ampla, com a tarefa explícita de devolver o país à normalidade institucional".

"A consequência foi que, desta vez, ocorreu a montagem de um governo de transição e de defesa da democracia, acima dos objetivos de uma ala ou outra. Mas a hora do acerto de contas chegou", avalia.

A constitucionalista Vera Chemin não se surpreende com o que está sendo ventilado — a troca de cargos por apoio parlamentar do Centrão. Conforme avalia, "trata-se de um filme repetido".

"Os objetivos do atual governo se limitam à coalizão de partidos políticos que viabilizem seus projetos político-ideológicos no curto, médio e longo prazos e, ao mesmo tempo, o apoiem na obtenção de recursos orçamentários para a concretização. Nada parecido com o primeiro mandato (de Lula), que foi progressista", lembra.

Extremismo em cena

Para o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, "Lula já não é o mesmo por tudo o que passou (perdas familiares, prisão) e, além disso, o contexto político não é o mesmo, visto que há um centro-direita e até uma extrema direita ligada ao bolsonarismo".

Ele lembra que "o período eleitoral fez com que o PT e Lula acenassem ao Centrão. A frente ampla para derrotar o bolsonarismo não foi tão ampla assim e, agora, a necessidade de governabilidade faz com que os acenos, bem como cargos e recursos para o Centrão e o presidente da Câmara Arthur Lira, sejam parte da realidade e do pragmatismo".

Márcio Coimbra, presidente do Instituto Monitor da Democracia, afirma que Lula apenas cede à realidade política do país. "Não é nada relativo ao governo em si. É uma realidade que se coloca diante de vários governos. Depende de quando esse governo cede à entrada do centrão dentro da estrutura do Executivo. Com (o ex-presidente Jair) Bolsonaro, demorou um tempo mais. Com (o ex-presidente Michel) Temer, o Centrão entrou diretamente no governo. Mas Lula esperou essa acomodação e está fazendo aos poucos".

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