O bate-boca entre o ex-deputado federal Jean Wyllys e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), dificulta a nomeação do ex-parlamentar para um cargo na Secretaria de Comunicação da Presidência. De acordo com fontes no Executivo consultadas pelo Correio, a situação gerou desconforto dentro do Palácio do Planalto e entre aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A confusão começou quando Wyllys fez comentários considerados homofóbicos contra Leite após o governador afirmar que iria manter no estado o programa de escolas cívico-militares, que foi encerrado por parte do governo federal. O ex-congressista afirmou que o chefe do governo gaúcho tem “fetiche” por “uniformes”.
“Que governadores héteros de direita e extrema direita fizessem isso já era esperado. Mas de um gay? Se bem que gays com homofobia internalizada em geral desenvolvem libido e fetiches em relação ao autoritarismo e aos uniformes; se for branco e rico então”, questionou Wyllys.
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Eduardo Leite respondeu que vai ingressar com uma ação criminal por conta das ofensas que sofreu. "Jean Wyllys dispara também ataques a uma decisão que eu tomei como governador. Ele pode não concordar, ter outra visão, mas tenta associar essa decisão a minha orientação sexual e até a preferências sexuais. Por isso, entrei com uma representação contra ele, por um ato de preconceito, de discriminação, de homofobia”, afirmou o governador.
Custo político
Fontes disseram à reportagem, sob a condição de anonimato, que ainda não está claro qual área Wyllys ocuparia dentro da Secretaria de Comunicação. No entanto, o convite teria partido do próprio presidente Lula e a primeira-dama, Rosangela Silva, a Janja, abraçou a causa e começou articular a nomeação.
Na avaliação destas fontes, a nomeação é política e não técnica. No entanto, o constante envolvimento de Jean Wyllys em polêmicas, e agora em uma situação de suposta homofobia, pode representar um custo político muito elevado e prejudicar a imagem do Executivo.
O presidente Lula vem realizando um esforço para dialogar com a oposição e evitar o acirramento dos embates políticos e discursos de radicalização, como ocorreu na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lula prontamente ligou para Leite quando o Rio Grande do Sul foi atingido por enchentes decorrentes de um ciclone extratropical que afetou o Sul do país. O presidente ofereceu ajuda, estrutura para resgates e colocou o corpo de ministros à disposição do governo e da população gaúcha.