O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou, ontem, em Bruxelas, capital da Bélgica, onde participará da Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia. Cerca de 60 líderes estrangeiros dos países componentes dos blocos são esperados para o encontro, que ocorre oficialmente entre hoje e amanhã (terça-feira).
Estão programadas discussões para fortalecer a parceria comercial entre os países e transições ecológicas. No entanto, Lula tem a missão extra: convencer os parlamentares europeus a acertarem os últimos detalhes do acordo do Mercosul com a União Europeia, que atualmente esbarra em divergências na área ambiental.
O acordo não faz parte da agenda da cúpula, mas o governo corre contra o tempo para que o compromisso seja firmado até o final do ano, antes das eleições do bloco europeu em 2024. Em março, a UE encaminhou documento com os últimos detalhes e algumas novas exigências, rechaçadas pelo Brasil, que produziu um texto novo.
A contraproposta foi aprovada e enviada aos outros países do bloco sul-americano, que devem analisar tecnicamente os termos, antes de encaminhar à UE. A expectativa é de que, no encontro em Bruxelas, Lula apresente o posicionamento brasileiro em relação às últimas exigências para aprovar a assinatura do tratado e mantenha posição crítica à possíveis sanções ambientais, além da possibilidade de que empresas estrangeiras acessem compras públicas brasileiras.
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Em entrevista ao Correio, o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Rodrigo Rollemberg, afirmou que há certa insatisfação do governo, sobretudo, em relação a uma cláusula adicionada posteriormente, de punição pelo desmatamento. "O Brasil está se colocando a favor do acordo e o Mdic acha importante que seja selado nas condições em que foi feito. Não se pode transformar em obrigação algo que não estava no acordo anteriormente", afirmou.
Interlocutores do Itamaraty relatam que o presidente Lula deve mencionar alguns compromissos do Brasil elaborados em um novo Plano de Transição Ecológica, liderado pelo Ministério da Fazenda. A ideia é demonstrar os esforços do país na agenda, crucial para destravar as negociações do acordo — concluído em 2019, mas ainda não ratificado.
Encontros bilaterais
A agenda oficial, divulgada pelo governo federal prevê reuniões e encontros com líderes políticos e empresariais europeus. O primeiro compromisso, nesta segunda, será provavelmente o mais importante: às 9h Lula irá se encontrar com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a expectativa é que o acordo com Mercosul seja o assunto da reunião. Em seguida, o presidente participará da abertura do fórum empresarial do evento.
Antes do almoço, Lula ainda terá mais duas reuniões bilaterais, a primeira com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, e a segunda com o rei Filipe da Bélgica ao lado do primeiro-ministro do país, Alexander de Croo. Às 15h, Lula se reunirá com a presidente do Parlamento europeu e, uma hora mais tarde, estará presente à sessão de abertura oficial da cúpula. Às 19h, ele participa de uma recepção seguida por um jantar de gala.
Na terça-feira, estão programados quatro eventos: o primeiro é um café da manhã com lideranças de partidos progressistas. Às 9h30, haverá uma sessão plenária da cúpula e, às 10h30, uma bilateral com a Suécia. Por fim, às 15h15, Lula se encontrará com a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen. O retorno a Brasília está previsto para quarta-feira, após uma entrevista oficial que o presidente concederá a jornalistas pela manhã.
Durante o encontro devem ser discutidas questões como mudança do clima; comércio e desenvolvimento sustentável; inclusão social; recuperação econômica pós-pandemia; transição energética, transformação digital justa e inclusiva; migrações; reforma da arquitetura financeira internacional; luta contra o crime organizado; e cooperação para o desenvolvimento.
A Cúpula marca a tentativa de retomar um diálogo interrompido em 2015, quando aconteceu o último encontro com a Celac. Depois disso, a UE mergulhou em problemas internos como a gestão da grave onda migratória de 2015-2016, o Brexit (processo de saída do Reino Unido da União Europeia), a pandemia de coronavírus e por fim a guerra entre Rússia e Ucrânia, que gerou também uma forte crise energética.