A inelegibilidade de Jair Bolsonaro movimentou as redes sociais, ambiente que seus apoiadores manejam bem, e refletiu a polarização que se mantém, mesmo passados pouco mais de oito meses do segundo turno da corrida presidencial.
Assim que a maioria contra o ex-presidente se formou no Tribunal Superior Eleitoral, parlamentares da extrema direita e integrantes do governo anterior inundaram o Twitter de postagens acusando o TSE de imparcialidade e, também, de defesas do legado de Bolsonaro. Mas houve, também, publicações tentando manter a fé da militância bolsonarista no futuro, vendendo a percepção de que o ex-presidente ainda é um personagem capaz de influenciar o jogo político.
Do lado do governo e de críticos e opositores de Bolsonaro, prevaleceu o sentimento de que a justiça foi feita contra alguém que todo o tempo trabalhou para minar o processo eleitoral brasileiro. Houve quem apontasse, ainda, que a inelegibilidade de Bolsonaro é apenas o primeiro degrau para que ele seja afastado da vida pública — uma vez que há outras ações judiciais contra ele.
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Ressaltaram, ainda, que a decisão do TSE foi a confirmação da força da democracia e que tratou-se de uma punição exemplar de alguém que utilizou o peso da máquina do governo para permanecer no poder.
Da solidariedade à distorção da decisão
Apesar de várias vezes menosprezado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-vice-presidente e hoje senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) classificou a decisão do TSE como cassação da "vontade popular". "Assim, a Justiça Eleitoral do Brasil se notabiliza por cassar a vontade popular. Como fez com Deltan Dallagnol, agora faz com Jair Bolsonaro", acusou.
Um dos principais nomes do time do ex-presidente, o ex-ministro-chefe da Casa Civil e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), disse que Bolsonaro foi condenado por ser "amado pelo povo". "Podem ferir o presente. Podem nublar o hoje, mas ninguém pode impedir o futuro. Ninguém pode proibir o amanhã. A esperança está mais viva do que nunca", tuitou.
O ex-ministro do Desenvolvimento Regional e senador Rogério Marinho (PL-RN) se solidarizou com o ex-presidente. "Como líder da oposição no Senado, tenho a responsabilidade de defender o legado econômico que nos tirou da maior recessão de nossa história, os valores da família, a vida desde a concepção, o combate à descriminalização das drogas e a defesa das liberdades", publicou.
Filhos do ex-presidente, o vereador Carlos, o senador Flávio (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) consideram que o pai foi condenado "por motivos pessoais". "Ficou claro a todos os brasileiros que ele é uma pessoa do bem, que não merecia nem havia fundamento legal para ser injustiçado. Julgamento parcial", disparou Flávio.
Eduardo não apontou nomes, mas fez questão de vincular a imagem de Bolsonaro à de Jesus Cristo, reforçando o discurso para o eleitor evangélico. Já Carlos foi fez uma associação direta entre a condenação do pai e as decisões do Supremo Tribunal federal (STF) favoráveis a Lula.
"Ontem, o descondenado esfregou na cara de todo mundo que quer o comunismo no Brasil. Aquele papo de esquerdista de que tudo e invenção da sua cabeça novamente vai pelo ralo", disse.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido do ex-presidente, distorceu a decisão do TSE afirmando que Bolsonaro perdeu os direitos políticos — os mantém e está apenas inelegível. "Não tem como acreditar no que está acontecendo: a primeira vez na história da humanidade que um ex-presidente perde os direitos políticos por falar. Vamos trabalhar dobrado e mostrar nossa lealdade ao presidente", garantiu.
No Palácio, apenas Padilha comenta
Do Palácio do Planalto, o único comentário sobre a inelegibilidade de Jair Bolsonaro foi do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Para o articulador político do governo junto ao Congresso, a decisão do TSE é o "primeiro passo na responsabilização pelos crimes em série cometidos por Bolsonaro e pela organização criminosa que ele chefia. Ainda há muito o que ser apurado e punido".
Na Esplanada dos Ministérios, porém, quase todos comentaram a inelegibilidade de Bolsonaro. Flávio Dino, titular da Justiça e Segurança Pública, disse que "a democracia venceu o mais duro teste das últimas décadas". E informou que enviará à Advocacia-Geral da União (AGU) pedido para ajuizar uma ação de indenização contra o ex-presidente pelos danos aos prédios públicos causados por seus apoiadores.
Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Anielle Franco (Igualdade Racial), Carlos Lupi (Previdência) e Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania) opinaram sobre a decisão do TSE. "Neste dia memorável, o TSE tornou inelegível um homem que jamais soube respeitar o cargo que ocupou. Que nunca demonstrou ser digno do mandato que recebeu do povo brasileiro. Que se utilizou de forma sistemática da mentira para permanecer no poder", lembrou Almeida.
Parlamentares também comemoraram a inelegibilidade de Bolsonaro. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), tuitou que "o julgamento constará em todos os livros de história! Vitória importante para nossa democracia e para o futuro do Brasil!".
O deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo Lula na Câmara, comentou que "o Brasil comemora, pois a Justiça está cumprindo o seu papel da garantia constitucional. Ninguém está acima da lei!". O líder do PSol, Guilherme Boulos (SP), usou as redes sociais para lançar acusações contra o ex-presidente. "Pelo menos oito anos sem o miliciano vagabundo nas urnas. O Brasil respira!", provocou.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi irônico nos comentários. "Bolsonaro fez um passeio completo pelo crime — comum, eleitoral e de responsabilidade — e produziu provas contra si. A maioria do TSE pela inelegibilidade mostra que não é pauta da política, mas da polícia. Só a CPI o indiciou por nove delitos, inclusive genocídio", comentou.