É certa a entrada do Centrão no governo Lula, não se sabe ainda em quais ministérios. As conversas de bastidor com os caciques do PP e do PR estão praticamente concluídas, de maneira a garantir uma maioria governista segura na Câmara, onde a governabilidade do país tem seu ponto mais vulnerável. As pressões para acelerar a mudança refletem as contradições entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e os caciques do MDB e do União Brasil no Senado, principalmente os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Davi Alcolumbre (União-AP).
As indicações de Lira estão consolidadas, fazem parte de seu acordo com os presidentes do PP, Ciro Nogueira (PI), e do Republicanos, Marcos Pereira (SP). Cotados para a Esplanada, os deputados Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) têm como características boas relações com o PT nos seus estados. O aval de Lira e suas bancadas, porém, não garante que os 49 votos do PP e os 41 do Republicanos sejam carreados automaticamente para as propostas do governo. Os dois ministros são políticos muito jovens e terão que exercer uma liderança compartilhada.
O caminho crítico das negociações é a escolha dos ministérios a serem ocupados, ou seja, dos ministros que serão defenestrados no novo desenho político da Esplanada. A entrada de 90 deputados de centro-direita na base do governo muda o perfil político do governo e o peso relativo de todos os partidos na sua composição, principalmente os de esquerda. Essa realidade faz com que uma legenda da base queira fazer cortesia com o chapéu do outro. Nem o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que conduz as negociações, sabe o que o presidente Lula pretende fazer na recomposição do governo e quando.
A pressa de Lira decorre do fato de que a votação da reforma tributária no Senado aumenta o poder de barganha de Renan Calheiros e Davi Alcolumbre, mas dificilmente Lula decidirá essa mudança antes de agosto. Entretanto, com viagem marcada para o exterior, por causa da reunião do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), nos próximos dias 20 ou 21, em Joanesburgo, ou Lula decide nesse interregno ou joga a mudança para setembro. Porque, no dia 27, comparecerá à reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em São Tomé e Príncipe. Tudo isso com uma dificuldade extra: as dores da artrose no quadril e as frequentes idas ao Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, para infiltrações de corticoide.
Enquanto isso, as intrigas prosperam. As tentativas de deslocar o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, considerado da cota do PT, e a ministra do Esporte, Ana Moser, escolha pessoal de Lula, até agora fracassaram, mas continuam. As especulações agora se voltam, também, para os ministérios dos Portos e Aeroportos, ocupado por Márcio França, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, acumulado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, ambos do PSB. Fala-se em deslocar França para a pasta de Alckmin, que ficaria com a responsabilidade de coordenar o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).
Dança das cadeiras
Ambos, porém, são ex-governadores que ajudam o Executivo a se articular com o empresariado paulista e mitigar a força de Tarcísio de Freitas (PR), principalmente às vésperas de eleições municipais. O atual governador de São Paulo é contra a entrada do PR no governo e pode até deixar o partido, pressionado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. De todas as mexidas possíveis no governo, provavelmente essa seria a mais delicada e com maior repercussão eleitoral. A primeira consequência seria reforçar a candidatura à reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e isolar de vez o candidato de Lula, Guilherme Boulos (PSol).
A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), também está sendo objeto de fritura. A entrada do economista petista Márcio Pochmann no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), depois de intenso bombardeio na mídia por sua atuação à frente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), foi tratada como um enfraquecimento da ex-candidata a presidente da República. A ministra já administra uma relação complexa com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante. Acontece que Tebet está afinadíssima com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assim como com Alckmin. Ou seja, são mudanças que mexeriam no time que mais está ganhando no governo, a equipe econômica.
Nova alternativa na bolsa de apostas seria a ministra Luciana Santos (PCdoB), de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), ser remanejada para a pasta das Mulheres, que ganharia o Bolsa Família. Nesse caso, a ministra Cida Gonçalves seria defenestrada. Não por caso, num parlamento com baixíssima representação feminina, os ministérios comandados por mulheres são os mais cobiçados pelo Centrão. Acontece que isso dificulta ainda mais a troca, porque a tendência de Lula é não diminuir o número de mulheres do primeiro escalão.
Além disso, se considerarmos o ritmo da mudança no Turismo, pasta na qual a deputada Daniela Carneiro (União-RJ) foi substituída pelo deputado Celso Sabino (União-PA), é possível uma decantação mais longa desse processo de substituição, até para evitar ressentimentos. Deve-se também levar em conta que tanto o arcabouço fiscal quanto a reforma tributária, além de outras medidas do governo, ainda não foram aprovados pelo Congresso. Pode ser que Lula queira testar a força dos dois indicados nas suas bancadas.
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