Armamentismo

Para Lula, clubes de tiro têm que fechar; saiba o motivo

Presidente não vê sentido em um cidadão comum ter uma pistola de alto impacto, como uma 9mm. "O que vai fazer com essa arma? Vai fazer coleção? Vai brincar de dar tiro?", questionou

Ândrea Malcher
Victor Correia
postado em 26/07/2023 03:55
Presidente é de opinião que os estandes de tiro devem estar à disposição apenas dos militares e dos integrantes das forças de segurança -  (crédito: Reprodução/TV Brasil)
Presidente é de opinião que os estandes de tiro devem estar à disposição apenas dos militares e dos integrantes das forças de segurança - (crédito: Reprodução/TV Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, ontem, no programa semanal Conversa com o Presidente, a posição contrária que tem à liberação das armas de fogo. Para ele, clubes de tiro deveriam ser restritos às Forças Armadas e de segurança. Ele frisou, ainda, que o governo de Jair Bolsonaro liberou os armamentos para beneficiar o crime organizado.

"Sinceramente, não acho que um empresário que tem lugar para praticar tiro é empresário. Já disse para o Flávio Dino (ministro da Justiça e Segurança Pública): temos que fechar quase todos (os clubes de tiro). Só deixar abertos aqueles que são da PM (Polícia Militar), do Exército ou da Polícia Civil. É organização policial que tem que ter lugar para atirar, para treinar tiro. Não é a sociedade brasileira. Não estamos preparando para uma revolução", afirmou.

Lula questionou o que leva uma pessoa a comprar uma pistola de grosso calibre, como 9mm. "Temos que ter claro o seguinte: por que um cidadão quer pistola 9mm? O que vai fazer com essa arma? Vai fazer coleção? Vai brincar de dar tiro? No fundo, esse decreto de liberação de armas que o presidente anterior fez era para agradar o crime organizado. Quem consegue comprar é o crime organizado, e gente que tem dinheiro. Trabalhador não está conseguindo comprar comida", enfatizou.

O preço de uma pistola Glock 9mm, de fabricação austríaca, está em torno de R$ 10 mil nas lojas especializadas. A arma é uma das preferidas dos atiradores e policiais pela leveza e por ser de difícil percepção pelos detectores de metal — as partes principais do artefato são em polímero.

Restrição

Desde que assumiu a Presidência, Lula vinha anunciado a restrição ao acesso a armamentos e munições, seguindo o caminho oposto ao de Bolsonaro — que costumava dizer em eventos públicos que "povo armado jamais será escravizado". Na semana passada, o governo baixou um decreto no qual restringe o uso das pistolas de calibre 9mm apenas às forças de segurança.

Um dos argumentos para que o governo determinasse que mãos inabilitadas não tivessem acesso a esse armamento de grosso calibre é o poder de penetração do projétil — de alta letalidade, capaz de transfixar mais de uma pessoa. Em maio de 2019, Bolsonaro assinou decreto liberando a compra de pistolas .40, .45 e 9mm para qualquer um que tivesse porte de arma.

O decreto também alterou o funcionamento dos clubes de tiro, que, pelas novas regras, só poderão permanecer abertos entre 6h e 22h — antes alguns funcionavam 24h. O decreto dá 18 meses de prazo para que esses locais se adaptam às novas regras.

No programa, Lula comentou a relação com o Congresso e a reforma ministerial que está sendo articulada. Segundo o presidente, o Centrão "não existe" e quer conversar com cada partido que integra o bloco. "Não conversei com ninguém. Se tiver gente falando que conversou com o presidente, é mentira. O Lula não conversa com o Centrão, conversa com os partidos individualmente", afirmou. Frisou que cabe a ele escolher que ministérios serão cedidos, mas disse ver com naturalidade que agentes políticos queiram cargos no governo em troca de apoio.

Ele disse também que fará uma cirurgia no quadril em outubro, com data ainda a ser marcada, para tratar de uma artrose que vem lhe causando intensas dores. "Ninguém consegue trabalhar com dor o dia inteiro", disse.