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Ao discursar em clube de tiro, deputada liga arma ao poder; entenda

Bolsonarista radical, Julia Zanatta (PL-SC) ataca a determinação do governo de voltar a limitar o acesso a artefatos e munições. Ao distorcer a definição de democracia, ela diz que "todo poder emana do cano de uma arma"

Ândrea Malcher
postado em 25/07/2023 03:55 / atualizado em 25/07/2023 06:29
Deputada (ao microfone) faz pregação armamentista e enxerga que há uma
Deputada (ao microfone) faz pregação armamentista e enxerga que há uma "guerra assimétrica" em curso - (crédito: Reprodução/Redes sociais)

Na inauguração de um clube de tiro em Florianópolis, a deputada bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC) afirmou, em discurso para a plateia, que "todo poder emana do cano de uma arma" — uma distorção da premissa da democracia de que "todo poder emana do povo e em nome dele deve ser exercido". O evento foi no sábado, mas somente ontem o vídeo circulou nas redes sociais. A parlamentar é uma defensora do armamentismo e que intensificou os ataques ao governo federal desde que, na semana passada, foram anunciadas a suspensão das regras baixadas no governo Bolsonaro e o retorno ao texto do Estatuto do Desarmamento de antes da posse do ex-presidente.

"A gente vai continuar mais unidos e firmes do que nunca na defesa da nossa liberdade. Porque eles sabem que todo poder emana do cano de uma arma", diz Julia, no vídeo. Ao Correio, ela afirmou que a frase seria "de um comunista", Mao Tse Tung. Na verdade, a frase cunhada pelo líder comunista chinês diz que o "poder político cresce do cano de uma arma".

Segundo a deputada, há uma "guerra assimétrica" em curso entre aqueles que defendem a autodefesa com armamentos e o governo. Segundo ela, o decreto que põe freio ao armamentismo é "genocida". "É um decreto genocida porque, para mim, a arma é para defender. Inclusive, falo muito de mulheres que têm boletins de ocorrência por violência doméstica e que resolvem ir num clube de tiro para aprender a atirar, comprar uma arma e poder se defender", afirmou.

Em agenda, ontem, por Santa Catarina, Julia compareceu a outro evento em um clube de tiro em Brusque. Para ela, a medida do governo impactará a liberdade daqueles que escolheram ter uma arma. "Quem imaginaria que teríamos tanto brasileiro armado disposto a lutar? O Estado não pode estar em todos os momentos para nos defender. Não posso jogar o Estatuto do Desarmamento ou esse decreto genocida do Lula para me defender de alguém que queira me agredir", argumentou.

Empregos

Julia alega que o decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que além de tornar mais rígidas as regras para o registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), restringiu o acesso a grossos calibres — terá um impacto em "empregos e famílias". "Por exemplo: a questão dos calibres que foram restringidos. Noventa por cento do estoque do varejo é de pistolas calibre 9 mm. Então, o que faz com isso agora? Criou-se aí um limbo jurídico", cobrou.

A parlamentar observou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e uma "deputada petista" associaram as armas ao aumento de feminicídio. Mas, segundo ela, isso não acontece em Santa Catarina. "Os feminicídios com armas de fogo legalizadas em Santa Catarina diminuíram no período de 2019 a 2022. Provo com números", desafiou.

Bolsonarista radical, Julia publicou, meses atrás, em suas redes sociais, foto segurando uma submetralhadora e vestindo uma camiseta na qual aparecia uma mão esquerda com um dedo a menos — como a de Lula, que não tem o dedo mínimo. Na blusa da deputada, lia-se "Come and get it" (Vem e toma), com o desenho de uma pistola e um fuzil.