Crime de 2018

Investigação avança em busca do mandante do assassinato de Marielle

Em delação, ex-PM Élcio Queiroz diz que dirigiu o carro usado no assassinato da vereadora, acusa Ronnie Lessa de ter feito os disparos e denuncia ex-bombeiro Maxwell Simões, detido ontem pela PF. Falta esclarecer quem encomendou o crime

Renato Souza
Ândrea Malcher
Rafaela Gonçalves
postado em 25/07/2023 03:55
A vereadora Marielle Franco foi assassinada em março de 2018: caso ganha fôlego com delação -  (crédito: Mário Vasconcellos/Câmara Municipal do Rio de Janeiro/AFP)
A vereadora Marielle Franco foi assassinada em março de 2018: caso ganha fôlego com delação - (crédito: Mário Vasconcellos/Câmara Municipal do Rio de Janeiro/AFP)

Preso desde março de 2019, acusado de ser um dos autores do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ) e do motorista dela, Anderson Gomes, o ex-policial militar Élcio Queiroz fez delação premiada e confessou participação no crime, ocorrido em 2018, no centro do Rio de Janeiro. Ele disse que dirigiu o carro usado no atentado e acusou o ex-sargento da Polícia Militar Ronnie Lessa — também preso há quatro anos — de ter feito os disparos. Élcio ainda apontou outros envolvidos, entre os quais o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel. Falta, porém, o mandante.

Em operação conjunta entre a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio (MPRJ), Maxwell foi preso preventivamente nesta segunda-feira. Segundo a investigação, ele teria sido responsável por vigiar e tomar nota da rotina da parlamentar. O suspeito foi encontrado em casa, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste da cidade, e acompanhou as buscas no imóvel, feitas por equipes do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ.

A prisão de Maxwell ocorreu no âmbito da Operação Élpis — batizada com o nome da deusa grega da esperança —, que cumpriu, ainda, sete mandados de busca e apreensão. O ex-bombeiro era conhecido das autoridades, pois, em 2020, foi condenado a quatro anos de prisão por tentar atrapalhar as investigações — estava no regime aberto. Ele teria cedido o carro para armazenar o arsenal de Ronnie Lessa e, depois, um de seus comparsas, Josinaldo Freitas, o Djaca, teria jogado no mar a arma usada nos assassinatos.

Élcio repassou aos agentes os nomes de outros envolvidos no caso. "Sem dúvida, há participação de outras pessoas, isso é indiscutível. As investigações mostram a participação das milícias e do crime organizado do Rio de Janeiro", declarou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, em coletiva de imprensa.

Segundo a delação, a contratação de Ronnie Lessa teria sido mediada por Edmilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, um sargento reformado da PM, executado em 2021, aos 54 anos. Na época, testemunhas relataram que ele caminhava pela Avenida Santa Cruz, em Bangu, em direção a um carro BMW, quando foi abordado por homens em um veículo. O policial foi atingido por vários disparos e morreu no local.

Campanas

O delator contou que Macalé teria participado das "campanas" para vigiar Marielle durante a preparação para o crime e que estaria no banco de trás do veículo usado para assassinar a vereadora no dia do crime para "contenção", ou seja, atirar no "alvo", caso os tiros de Ronnie não fosse capaz de atingir a vereadora. "Inclusive, foi através do Edmilson que trouxe, vamos dizer, esse trabalho pra eles; essa missão pra eles foi através do Macalé que chegou até o Ronnie", disse aos investigadores. Na delação, Élcio afirmou que havia planos de executar a parlamentar em dezembro de 2017 (leia Saiba mais). "Até o final do ano estavam fazendo monitoramento do alvo", contou.

Élcio declarou à PF que recebeu, durante meses, pelo menos R$ 5 mil de Maxwell e que, posteriormente, a mesada foi reduzida até deixar de ser depositada "do nada", há mais de um ano. O delator disse aos investigadores que Lessa recebia R$ 10 mil por mês, metade para pagar o advogado de defesa e o restante para ajudar nas despesas do próprio Élcio, que estaria "passando dificuldade".

Irmão

O irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa, prestou depoimento à PF nesta segunda-feira, e outras pessoas do círculo próximo do ex-sargento foram presas, suspeitas de participação no crime. Segundo o delegado da corporação Guilhermo Catramby, Denis confirmou ter recebido, na casa da mãe deles, no bairro do Méier, na Zona Norte, uma bolsa do irmão contendo objetos usados no crime e afirmou que chamou o táxi para que Ronnie e Élcio fossem à Barra da Tijuca. A viagem pode ser averiguada pelo sinal do celular de Élcio. Ao chegarem à Barra, eles teriam se encontrado com Maxwell.

"Não temos elementos que indiquem uma adesão prévia de Denis na conduta de seu irmão e de Élcio, não temos como precisar que Denis sabia o que tinha acontecido antes, ou do conteúdo da bolsa. Nesse momento, nós não sabemos", disse Catramby em entrevista coletiva.

Segundo Dino, em razão da delação, novas diligências serão realizadas. O foco, a partir de agora, é encontrar quem são os mandantes ou o mandante dos homicídios. "Passos concretos, efetivos, relevantíssimos que estão sendo dados mostram que estamos próximos de esclarecer. Não há crime perfeito. Outras novidades, com certeza, ocorrerão nas próximas semanas", declarou o ministro.

Ele explicou que outros aspectos da delação de Élcio estão sendo investigados, sob segredo de Justiça. "Nas próximas semanas, provavelmente haverá novas operações derivadas desse conjunto de provas colhidas no dia de hoje (nesta segunda-feira)", frisou. Élcio e Lessa estão presos em Rondônia e aguardam ir a júri popular.