Congresso

Decisão de expulsar deputado expõe fratura do PL

Motivação para tirar Yury do Paredão deixa claro que partido está divido em duas alas: a radical bolsonarista e os pragmáticos/fisiológicos, que não aceitam fazer oposição visceral ao Palácio do Planalto

Raphael Felice
Ândrea Malcher
postado em 21/07/2023 03:55
Nem Bolsonaro conseguiu que o PL votasse fechado contra a reforma -  (crédito: Beto Barata/PL)
Nem Bolsonaro conseguiu que o PL votasse fechado contra a reforma - (crédito: Beto Barata/PL)

A expulsão do deputado Yury do Paredão joga luz sobre a fratura que existe, hoje, no PL. Isso porque ele não é o único parlamentar do partido a demonstrar simpatias a Luiz Inácio Lula da Silva. Se nenhum deputado da legenda foi tão longe ao ponto de "fazer o L" com membros do governo ou cumprimentar efusivamente o presidente da República, outros correligionários têm entregado, na Câmara, votos ao Palácio do Planalto em questões que lhe interessam.

A avaliação de políticos e especialistas, além de relatos de integrantes do próprio partido, é de que o PL pode estar iniciando um processo de fragmentação. Isso porque há um choque entre duas alas: os pragmáticos/fisiológicos contra os bolsonaristas radicais. Prova disso é que, no projeto de lei do arcabouço fiscal, 30 deputados votaram favoravelmente à matéria, dos até então 99 integrantes da legenda. Já na medida provisória (MP) da Esplanada, apesar de o presidente Valdemar Costa Neto fechar questão contra o texto, oito deputados — posteriormente punidos com suspensão de cadeiras em comissões — votaram pela reestruturação ministerial de Lula.

Na reforma tributária, o ex-presidente Jair Bolsonaro entrou no circuito para, novamente, forçar o PL a votar em peso contrariamente. Mas fracassou: dos 382 votos no primeiro turno a favor da proposta de emenda constitucional (PEC)da medida, 20 foram do PL.

A maior resistência à oposição visceral ao governo é da bancada do Nordeste, que pela força de Lula na região não vê com maus olhos a aproximação com o Planalto. Sobretudo porque, como 2024 é ano de eleição municipal, vários pretendem pegar carona nos projetos do governo. À ideologia, falam mais alto os votos e o instinto de sobrevivência política.

Indignação

A adesão de parte expressiva do PL à reforma tributária indignou os bolsonaristas. Em um grupo de WhatsApp, cobraram explicações daqueles que acompanharam o governo. O líder Altineu Côrtes (RJ) chegou a suspender, segundo ele por alguns minutos, as conversas para que a poeira baixasse.

Da mesma forma, os "pragmáticos" se irritaram com as punições impostas aos oito deputados que votaram a favor da MP da Esplanada. "Acho normal dentro de um partido que teve uma reformulação gigantesca em pouco tempo. Há figuras ainda dentro do partido que têm um pensamento mais fisiológico e que, naturalmente, vão resistir em manter um comportamento vinculado com o eleitorado conservador. Não é o melhor dos cenários, mas não vejo grandes problemas para o partido", amenizou o deputado Junio Amaral (PL-MG).

Apesar da distância da janela partidária — que será às vésperas das eleições de 2026 —, partidos como Republicanos e PP já trabalham para atrair os insatisfeitos do PL. De acordo com Marcus Ianoni, cientista político, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), os "pragmáticos" podem se aproximar de outras legendas com o mesmo perfil.

"O governo Lula tem diálogo com as forças do centro. O bolsonarismo está em crise e eles não podem se aprisionar à causa ideológica. Eles têm interesses e também prestam conta para suas bases eleitorais", disse.

O próprio Costa Neto busca o precário equilíbrio entre as duas alas do PL. Com a expulsão de Yury do Paredão, acenou aos radicais e mostrou que não pretende abrir mão do capital de votos da extrema direita. Mas isso não o impediu de, em recente entrevista, ter admitido uma conversa com Lula no período em que o partido se aproximou de Bolsonaro. E afirmou que "sempre se deu bem" com o atual presidente da República.