atos antidemocráticos

Hacker acusa Zambelli de pedir invasão às urnas; saiba o motivo

Walter Delgatti afirma, em depoimento à PF, que deputada bolsonarista queria que ele entrasse no sistema eleitoral e, também, no e-mail do presidente do TSE. No primeiro, não conseguiu e, no segundo, não encontrou nada comprometedor

Correio Braziliense
postado em 12/07/2023 03:55
 (crédito: Reprodução/Redes sociais)
(crédito: Reprodução/Redes sociais)

O hacker Walter Delgatti Neto, que invadiu o celular do senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) e de outras autoridades — que levou à anulação de várias condenações da Operação Lava-Jato —, afirmou, em depoimento à Polícia Federal (PF), que a deputada Carla Zambelli (PL-SP) o procurou para pedir que ele invadisse o sistema das urnas eletrônicas e o celular do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal federal (STF). O hacker afirmou, ainda, que a parlamentar sugeriu que ele incluísse, no Banco Nacional de Prisões, um decreto de reclusão contra o magistrado.

De acordo com fontes ligadas à PF, Delgatti afirmou que não conseguiu invadir o sistema eletrônico de votação. Mas disse ter conseguido acessar o e-mail de Moraes, no qual não encontrou nada comprometedor. As informações sobre o depoimento foram divulgadas pela jornalista Andréia Sadi, do G1, e confirmadas pelo Correio.

O encontro entre Zambelli e Delgatti, segundo o hacker, para acertar as invasões ocorreu em setembro de 2022, um mês antes da realização das eleições presidenciais. Na ocasião, as principais pesquisas já mostravam que o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, liderava as intenções de voto.

Na segunda-feira, a 10ª Vara Federal Brasília autorizou a soltura de Delgatti. Ele deve voltar para São Paulo, após ser liberado pela Justiça, mas terá de enviar às autoridades do DF um relatório mensal sobre as atividades que exerceu na internet.

Além disso, não poderá deixar o estado de residência sem a prévia autorização do Poder Judiciário. O hacker foi preso em 2019, no âmbito da Operação Spoofing. Ele tinha sido solto antes, sob a condição de não acessar a internet ou usar as redes sociais.

Colaboração

No entanto, admitiu estar atuando nas redes sociais da deputada, além de usar um e-mail como chave pix para receber doações para ela. Delgatti também cuidava do site de Zambelli e não estava sendo encontrado em endereços que forneceu à Justiça.

Na decisão, o juiz Ricardo Leite destacou que o hacker descumpriu medidas judiciais impostas anteriormente. "A justificativa de buscar emprego em outra localidade pode até ser verdadeira, mas sua insistência em simplesmente descumprir medidas cautelares sem prévia desoneração judicial exibe atitude que não se mostra compatível com a vontade de submeter-se a aplicação da lei e dos comandos judiciais. As medidas cautelares impostas apenas tencionam evitar comportamentos que possam causar alguma instabilidade social, embasando-se na gravidade das conduta pela qual está sendo processado", destacou o magistrado.

O juiz, porém, entendeu que o acusado passou tempo relevante na prisão e, por isso, o encarceramento poderia ser substituído por medidas mais simples. "Reconheço que o denunciado já passou tempo razoável encarcerado e que a imposição das medidas cautelares perdura por grande lapso temporal, não sendo possível que haja restrição total de sua liberdade de locomoção. Ocorre que ao menos seu paradeiro há que ser determinado de forma segura até a prolação da sentença, que será realizada de forma próxima", conclui o magistrado no despacho.

Procurada pelo Correio para comentar o episódio, Zambelli negou "os fatos noticiados em relação às declarações do hacker Delgatti". Seu advogado, Daniel Bialski, pedirá acesso aos autos e, depois de analisados, "tomará todas as medidas cabíveis".

Ação na 1ª instância

O ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enviou à Justiça Eleitoral de São Paulo uma ação contra a deputada Zambelli que pode levar à inelegibilidade da bolsonarista. A ação foi protocolada pela deputada Sâmia Bonfim (PSol-SP), que a acusa de disseminar desinformações sobre o sistema eleitoral.

Ao analisar um recurso da defesa da deputada, que queria que a ação permanecesse no TSE, o ministro decidiu que a competência de analisar o caso é da Justiça estadual. "A Corregedoria Regional Eleitoral de São Paulo é o órgão competente para o processamento originário da presente ação, em que são partes deputadas federais, eleitas por aquele estado, e em que se discute suposto abuso de poder que teria maculado a eleição da investigada", salientou o ministro.

A defesa de Zambelli afirma que esta situação possui conexão com outra, em que o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados, incluindo a deputada, figuram como investigados por supostamente disseminar informações falsas sobre o sistema eletrônico de votação. No entanto, para o ministro, não se justifica a reunião de todas as ações contra congressistas no TSE.

 

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